A cirurgia ortognática é cada vez mais comum no Brasil, mas não há muita orientação sobre os processos pré e pós-operatórios desse procedimento. A primeira operação desse tipo feita no país foi em 1979 e a poucos anos passou a ser realizada pelo SUS e por planos de saúde. Por isso, são poucos os materiais de informação sobre esse procedimento. Porém, uma iniciativa da Escola de Enfermagem da USP (EE) pode contribuir para mudar essa realidade.

A pesquisadora Cristina Silva Sousa coletou informações sobre as maiores dúvidas dos pacientes à respeito da cirurgia ortognática e montou um livro educativo sobre os cuidados pré e pós-operatórios nessa modalidade. No material pode-se encontrar desde informações técnicas sobre a realização da cirurgia até exercícios e cuidados de higiene que devem ser feitos pelos pacientes após o procedimento.  

O livro foi distribuído em uma clínica particular para ser consultado por pessoas que passariam pelo procedimento. Após obter resultados positivos com essa amostra de pacientes, Cristina pretende publicá-lo em plataformas online.

Desinformação é arriscada

A iniciativa veio após a pesquisadora observar várias evidências de falta de informação por parte dos pacientes que atendia. Ela relata que diversos pacientes se esqueciam de orientações básicas dadas pelos profissionais de saúde, como a necessidade de realizar a higiene bucal ou a manutenção de dieta equilibrada e restrita a líquidos no pós-operatório.

Além disso, por meio de pesquisas na web, Cristina encontrou diversos blogs e sites leigos sobre o assunto. Isso chamou sua atenção para a demanda por informações sobre a cirurgia, mas a falta de orientação médica. Para ela, “a internet é a nova fonte de busca de informações, mas pode ser uma vilã para as questões de saúde, pois não se pode garantir que toda informação colocada seja baseada na ciência.”

Os riscos dessa desinformação são grandes para os pacientes que passam pela cirurgia ortognática. Os cuidados pós-operatórios são importantes para garantir a eficácia e segurança do procedimento. Entre eles estão: higiene oral (escovação de dentes, bochecho), dieta restrita a líquidos com nutrientes equilibrados, repouso (não realizar exercícios físicos),  abertura limitada da boca e realização de exercícios bucais para recuperar a região,  manipulação de elásticos e hidratação labial. Caso essas recomendações não sejam realizadas corretamente, podem ocorrer danos à saúde. Não escovar os dentes, por exemplo, pode levar à infecções, pois, como lembra a pesquisadora “a incisão dentro da boca é porta de entrada de riscos”. Além disso, realizar exercícios pesados ou não manipular os elásticos da boca pode prejudicar o reestabelecimento do maxilar, bem como seguir a dieta líquida sem se atentar para o equilíbrio nutricional pode causar fraqueza e perda de peso.

Como a maioria dos cuidados fica nas mãos do próprio paciente é imprescindível que haja orientação. É por isso que o material criado pela enfermagem visa informar de maneira adequada os pacientes a respeito da cirurgia ortognática. Assim, os riscos e complicações pós-cirúrgicos devem diminuir e o bem estar dos pacientes melhorar.