Um grupo de pesquisadores do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-USP) desenvolve estudos que buscam reconhecer os genes bacterianos responsáveis por conferir resistência a determinadas drogas e antibióticos. Hoje, a resistência múltipla a drogas é um problema de saúde pública; a descoberta de novos medicamentos não acompanha a seleção bacteriana e aquisição de resistência.
Sob a orientação do professor Nilton Erbet Lincopan Huenuman, a doutoranda Miriam Fernandes trabalha com amostra de bactérias super-resistentes de origem animal, ambiental e humana (as últimas isoladas de infecções hospitalares). Miriam conta que seu foco de estudos são os plasmídeos, elementos móveis que as bactérias carregam e possuem genes que são os grandes responsáveis pela disseminação da resistência a antibióticos. Para isso a doutoranda é responsável pela caracterização molecular dos plasmídeos e pelo mapeamento genético desses elementos.
Para identificar se as bactérias são imunes ou não a determinada droga, os pesquisadores fazem um teste de suscetibilidade. Os cientistas colocam bactérias frente a amostras de vários antibióticos e verificam se há ou não resistência. Se o resultado for positivo, o grupo busca identificar os genes responsáveis pela resistência àquela classe de drogas, dando sequência a esse monitoramento.
Uma das conclusões mais recentes do grupo de pesquisadores foi feita a partir de publicações de cientistas da China. As equipes chinesas descobriram, em novembro de 2015, um novo gene, o mcr-1, que confere resistência a colistina (antibiótico de última escolha para o tratamento de infecções bacterianas). Os pesquisadores do ICB constataram a presença desse gene nas amostras laboratoriais do Instituto. Em abril, quando a pesquisa foi publicada a equipe brasileira localizou o mcr-1 em amostras animais. Porém, na semana passada Miriam e sua equipe submeteram outro artigo que mostra a presença do novo gene em amostras humanas isoladas de ferimentos de um diabético. “Isso chama a atenção pois, provavelmente, esse gene esteja circulando no Brasil já há algum tempo, e isso nos preocupa, já que a colistina é utilizada como tratamento de última escolha terapêutica no caso de pacientes infectados por bactérias multirresistentes”, explica Miriam.
Miriam Fernandes concluiu que o grande problema da resistência das bactérias frente a drogas é a restrição cada vez maior nas possibilidades de tratamento. “O uso incorreto e indiscriminado de antibióticos, não obedecendo as dosagens e horários, além do abandono do tratamento e prescrição incorreta de antibióticos levam à seleção de bactérias resistentes,” esclarece.