ISSN 2359-5191

03/05/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 13 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Alcoolismo causa modificação em célula humana, aponta pesquisa da USP

São Paulo (AUN - USP) - O uso de bebidas alcoólicas em excesso causa danos e modificações duradouras nas células humanas, dificultando a cura da dependência. É o que afirma a professora Rosana Camarini do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da USP.

O estudo foi realizado com camundongos que, após receberem uma injeção de álcool, aumentavam a atividade locomotora. O aumento dessa atividade pode ser comparado ao aumento do desejo humano de consumir a droga. A professora observou nesses animais modificações de células cerebrais (alterações neuroplásticas), sobretudo nas moléculas da membrana celular e de moléculas intracelulares.

"Esse modelo mimetiza muito com o que acontece no ser humano dependente e que vai para uma clínica se tratar. Neste período acredita estar curado, mas quando ele volta para casa e para os lugares de antes, como a rua do bar, o circuito que já está modificado dá um clique para reiniciar o consumo da droga", afirma a pesquisadora do ICB.

O fenômeno é conhecido como sensibilização comportamental, já que não houve diminuição do efeito do álcool para uma mesma dose (tolerância), mas o aumento do desejo e dos efeitos da droga.

Os animais que já haviam experimentado o álcool antes de outros, que nunca tiveram recebido a injeção da droga, apresentaram uma atividade locomotora maior. "Isso está relacionado com o sistema de neurotransmissão, o principal é o dopaminérgico, ou seja, com o efeito prazeroso que as drogas dão", diz Rosana.

Uma das vias relacionadas ao prazer das drogas é conhecida, pelos cientistas, como sistema mesolímbico. Este é um sistema de recompensa que, quando ativado, faz o usuário continuar a consumir o álcool ou qualquer outra droga. "Todas as drogas de abuso induzem a perda do controle", alerta a professora.

Outro aspecto importante da pesquisa feita no ICB é a constatação da associação do ambiente com o efeito. O camundongo, depois que recebia a dose de álcool, era colocado em um lugar diferente ao da caixa-dormitório dele. Ele observava as paredes e o piso diferente sob o efeito do álcool. Depois que o animal já estava condicionado era dado uma dose de salina (para o camundongo ver que estava sendo injetado algo nele) e ele era colocado no mesmo ambiente. Percebeu-se que a atividade locomotora era maior do que a de outro animal que nunca havia recebido a droga, pois o camundongo ao ver o ambiente lembrou-se dos efeitos prazerosos que ele teve.

A associação entre efeito e ambiente também acontece no ser humano. "Um homem que acredita estar curado do álcool, ao ver outra pessoa bebendo, mas não pode beber, vai ativar todo um circuito do prazer porque induziu mudanças moleculares. Muitas vezes não é preciso nem ver a droga, pode ocorrer com um ambiente ou algo que lembre o prazer do álcool", revela a pesquisadora.

A professora diz que o tratamento de desintoxicação só funciona se o paciente tiver um acompanhamento depois da saída da clínica. "É preciso a ajuda de psicoterapeutas, pois existe todo um sistema pronto para voltar ao consumo do álcool", diz Rosana. Ela cita o exemplo dos usuários de anfetamina, que mesmo depois de um ano ou dois continuam com o sistema sensível ao uso da droga.

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