Alunos dos cursos de administração dependem do nível de escolaridade de seus professores para tirarem boas notas no Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). É o que revela uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, que avaliou o desempenho dos concluintes de administração no Enade de 2012.

Segundo o estudo, a proporção de docentes com doutorado tem relação positiva com o desempenho discente no exame nacional. Profissionais apenas graduados ou especializados apresentaram baixos efeitos sobre a nota de seus alunos. “A constatação contribui no sentido de orientar instituições a ter uma ideia do caminho que elas têm que seguir”, diz a responsável pela pesquisa, Tainá Brito.

O regime de dedicação do docente (integral ou parcial) também influencia o desempenho dos alunos de administração. Dados levantados pela pesquisa indicaram que a atividade profissional exclusiva ou predominante foi fundamental para as boas notas dos discentes no Enade. O fenômeno, entretanto, só esteve restrito às instituições públicas de ensino, já que a constatação não foi observada em instituições privadas.

Entre as outras descobertas, o estudo demonstrou ainda que os melhores desempenhos foram de instituições com maior número de cursos superiores e com mais professores por curso. Além disso, as maiores notas ficaram concentradas na região sudeste e sul.

Apesar das causas serem hipotéticas, a pesquisadora acredita que as constatações são importantes para incentivar novos estudos. Segundo ela, o objetivo não é questionar a validade e eficácia do Enade. “Cheguei a alguns resultados, mas a contribuição maior é fomentar coisas novas”, explica.

Para realizar a pesquisa, Brito utilizou os dados disponíveis mais recentes do exame, referentes ao exame de 2012. Cerca de 140 mil concluintes dos cursos de graduação em administração foram analisados, de 1.290 instituições de ensino superior brasileiras. A Universidade de São Paulo (USP) não foi avaliada, já que sua participação na prova é facultativa.

A USP no Enade

De 2013 até o ano passado, a Universidade de São Paulo participou do Enade de forma experimental. Até então, a USP era a única instituição pública estadual que ainda não participava da avaliação, que é obrigatória apenas para a rede federal e particular de educação superior.

O acordo, firmado entre a instituição e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), previa a participação da Universidade no exame por três anos. Ao contrário de outras instituições, contudo, os alunos não foram obrigados a fazer a prova.

Os cursos oferecidos pela Universidade que puderam participar do Enade 2015 foram Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas (Economia), Design, Direito, Jornalismo, Psicologia, Publicidade e Propaganda, Relações Internacionais e Turismo. Os resultados não serão divulgados enquanto o regime for experimental.

O Enade tem como objetivo avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos previstos nas diretrizes curriculares. Criado em 2004, o exame define ações voltadas à melhoria da qualidade dos cursos de graduação por parte de professores, técnicos, dirigentes e autoridades educacionais. Ao contrário das demais instituições públicas, a USP resiste em adotar o exame por não concordar com os critérios da avaliação.