O Climatério é uma fase da vida da mulher em que ela passa do período reprodutivo para o não reprodutivo e dura geralmente dos 35 aos 65 anos. Nessa época, ela passa por diversos sintomas físicos e emocionais que precisam de cuidado e orientação adequados. Para ajudar na garantia da boa qualidade de vida da mulher no climatério, o Núcleo de Assistência ao Cuidado da Mulher (Naam) da Escola de Enfermagem da USP (EE-USP) produziu uma cartilha chamada “É tempo de se cuidar mais”.
O livro está disponível no site da EE-USP, por este link: http://www.ee.usp.br/doc/cartilha_climaterio_web.pdf. Ele é direcionado a mulheres que estão vivenciando o climatério e tem como objetivo informá-las e orientá-las sobre as técnicas para autocuidado nesse período. “As mulheres têm uma falta de informação grande a respeito de climatério e menopausa, que são coisas diferentes. E também os profissionais de saúde não têm dado a atenção devida a essa fase”, justificou a enfermeira e pesquisadora responsável pela cartilha, Juliana Rodolpho.
Para produzir o material, foram realizados grupos educativos com mulheres de 45 a 65 anos no Centro de Saúde-Escola Geraldo de Paula Souza, em São Paulo. Nesses eventos, dúvidas que surgiram sobre o tema foram coletadas, discutidas e sanadas. Foram nove encontros temáticos, tratando de autocuidado durante o climatério, problemas de relacionamento familiar nessa fase da vida, sexualidade, autoestima e enfrentamento das mudanças.
Após os encontros, foi produzido o material com base no que foi trazido nas reuniões. As dúvidas das mulheres, apresentadas em falas e com ilustrações garantiu a identificação delas com a cartilha. Assim, o livro foi validado por um ginecologista especializado na área e pelas próprias participantes, para manter o caráter voltado às leigas sem perder a precisão científica.
Dificuldades no climatério
Uma das principais dúvidas que surgiram entre as mulheres foi relacionada às terminologias. “Muitas das mulheres ficavam confusas com o que é climatério e o que é menopausa”. Na cartilha, esse problema é solucionado e fica claro que menopausa é um evento dentro do climatério, no qual acontece a última menstruação da mulher, marcando o fim de seu período reprodutivo.
Os sintomas físicos do climatério também se apresentaram como queixas entre as entrevistadas. O principal deles são os fogachos, ou ondas de calor, que prejudicam a qualidade de vida e rotina das mulheres nessa fase. A pesquisadora explicou que “a mulher hoje trabalha até mais tarde e valoriza muito essa atividade como forma de autonomia, e os fogachos [ondas de calor] muitas vezes atrapalham". Por isso, o material educativo deu bastante enfoque para essa questão, tentando elencar dicas para amenizar esse sintoma, como usar roupas leves, carregar água consigo e controlar a respiração durante uma onda de calor.
Mais do que os sintomas manifestados a olho nú, as mulheres queixavam-se de problemas psíquicos relacionados ao climatério, como mudanças de humor que afetam a autoestima. Sobre isso, Juliana ressaltou o preconceito que as mulheres sofrem e a necessidade de compreensão por parte dos familiares e parceiros. Ademais, a pesquisadora explicou que a queda na autoestima nessa fase está relacionada a fatores sócio-culturais. “Na nossa cultura, para a mulher, o envelhecimento se relaciona com a perda de beleza e de valor, diminuindo muito a autoestima delas nessa fase". Para piorar, mesmo na linguagem médica há uma ideia que associa o climatério à debilitação da saúde da mulher, com o uso de termos como “regressão ovariana” e “declínio hormonal”. Por isso, nos encontros e na produção da cartilha, procurou-se trabalhar potencialidades e lados positivos do climatério na vida da mulher.
Atendimento de saúde
Além da cartilha produzida pelo Naam, há manuais de órgãos públicos para orientação dos profissionais da saúde a respeito da mulher no climatério. O Ministério da Saúde e a Secretaria Municipal de São Paulo divulgam esses materiais de forma a preparar os trabalhadores de saúde para lidar com os sintomas psíquicos e físicos das pacientes e ajudá-las nesse período da vida.
Porém, muitas vezes, não é dada a atenção às necessidades específicas das mulheres no climatério. A pesquisadora disse que no sistema de saúde, o foco nas questões femininas fica no pré-natal e planejamento familiar, comprometendo o atendimento integral à mulher em outras fases da vida.
A busca tardia de acompanhamento médico também é um problema, pois “muitas das mulheres procuram o serviço de saúde já quando apresentam sintomas, enquanto o ideal seria que houvesse acompanhamento com o ginecologista desde cedo, para que elas possam enfrentar esse momento com mais tranquilidade".
Especialmente durante o climatério, as mulheres necessitam de um cuidado profissional humanizado e de qualidade, pois cada uma delas vivencia essa fase da vida de forma singular. Juliana explica que “o climatério já é uma fase da vida da mulher intrinsicamente relacionada com mudanças, como aposentadoria, filhos saindo de casa, além da questão do envelhecimento. Por isso é preciso atenção singular". Assim, a cartilha serve como uma consulta particular para cada mulher lidar com seus problemas do climatério da forma que mais lhe servir.