São Paulo (AUN - USP) - O comércio de dentes já se tornou um ato rotineiro no meio odontológico, à medida que é realizado para obter dentes para pesquisas e treinamentos laboratoriais. Essa obtenção fácil pretende ser combatida pelo Banco de Dentes Humanos (BDH) da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, que alerta acadêmicos, docentes, pesquisadores e a população leiga sobre os aspectos morais e legais para se conseguir dentes humanos, além de receber doações de dentes permanentes e de leite.
Criado em 1992, o Banco de Dentes funciona com duas alunas bolsistas do Coseas, três estagiários, três alunos do primeiro ano, uma funcionária contratada pela faculdade e um professor supervisor técnico científico. Ele obtém dentes doados pelas prefeituras, pela população em geral e por cirurgiões dentistas e pesquisadores e é mantido pela mesma faculdade, pela Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) e pela Fundação USP. Os dentes são utilizados para atividades de pesquisa, colagens de fragmentos (restaurações biológicas) e treinamentos laboratoriais. O banco tornou-se referência internacional em suas atividades, uma vez que é pioneiro no Brasil, país famoso pela regulamentação ética das atividades dentárias. Os dentes são recebidos e separados em recipientes identificados contendo água destilada, soro fisiológico ou glutaraldeído, e conservados sob refrigeração em meios inertes trocados semanalmente até o momento da esterilização.
O Banco de Dentes é um meio de se obter o órgão de maneira legalizada e sanitária. As faculdades de odontologia carecem de dentes para estudos e atividades laboratoriais, de acordo com o dentista José Carlos Imparato, supervisor do Banco. Logo, alunos e pesquisadores, muitas vezes, são provocados a buscá-los por meios ilícitos. O comércio de dentes é proibido pela lei 9434 de 4 de fevereiro de 1997, que torna ilegal “comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano”. O dente, uma vez extraído do paciente, a ele pertence. José Carlos enfatiza que “a população não enxerga o dente como um órgão, como um material biológico assim como um fígado ou um cérebro”. Por isso, as pessoas devem ser conscientizadas de que existe a possibilidade de doar dentes para auxiliar os estudos odontológicos e evitar o comércio de dentes roubados de cadáveres, ou comprados em clínicas populares.
Com esse objetivo, o Banco de Dentes realiza campanhas para a doação de dentes, incluindo um projeto para que crianças doem seus dentes de leite. O projeto está desenvolvendo um gibi educativo que explica a importância do dente como um órgão a ser doado e que incentiva as crianças a não guardarem seus dentes de leite para fazer pingentes ou para doá-los à famosa “fada dos dentes”. José Carlos ressalta que essa campanha, especificamente, visa criar uma futura geração de doadores. Há também a intenção de se fazer uma campanha que incentive doações e a criação de bancos de dentes junto ao Ministério da Educação.
A doação de dentes pode ser feita por qualquer cidadão, podendo até mesmo ser realizada pelo correio. A obtenção ilegal de dentes é vista como anti-ética e representa um risco de saúde, uma vez que a falta de informação sobre a origem desses órgãos pode criar condições anti-sanitárias para o uso dos dentes pelas universidades. O comércio ilegal pode ser denunciado a qualquer momento ao Conselho de Odontologia.