A afirmação é de Antônio Márcio Buainain, docente do Núcleo de Economia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para o economista, o investimento em tecnologia para pequenos produtores é um imperativo para alcançar o desenvolvimento sustentável, além da necessidade de se pensar em iniciativas para integrar cada vez mais a agricultura familiar ao agronegócio – ao contrário das políticas atuais, que se baseiam em uma segmentação dos dois tipos de produção.
Segundo dados de Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em 2010 existiam no país 3,3 milhões de minifúndios, que ocupavam 8,2% do total de terras do país. Já os 130 mil latifúndios existentes ocupavam mais da metade (55,8%) da área rural do Brasil. O minifúndio, por definição, é uma propriedade de tamanho inferior ao módulo rural – o que significa que seu tamanho é inferior ao mínimo necessário para que um proprietário possa manter-se economicamente em determinada região.
Tabela mostrando a distribuição de terras no país / Fonte: reformaagrariaemdados.org.br
Logo, em termos de sustentabilidade, é difícil evitar a superexploração da propriedade no caso de um minifúndio, cuja produtividade precisa ser elevada para compensar a pouca área. Entretanto, as tecnologias para intensificar a produção, utilizadas pelo agronegócio, ainda são poucos acessíveis ao pequeno produtor. Assim, a sustentabilidade acaba sendo um desafio a mais para o agricultor familiar, como explica Buainain: “É um desafio importante, porque o agricultor familiar no Brasil é também um pequeno produtor. No Brasil, coincide que o agricultor familiar tem pouca terra. Grande parte dos agricultores familiares são minifundistas. Então os agricultores familiares que têm pouca área, tendem a sobre-explorar essas áreas”, afirma. “A pobreza é um fator muito grande de agressão ao meio ambiente. O pequeno agricultor tem menos condições de comprar tecnologias sustentáveis”.
As iniciativas para modernização do setor
Em junho de 2016, o Banco Mundial anunciou a proposta de criar um centro de inovação tecnológica em Santa Catarina, com foco nas chamadas “tecnologias verdes”. A ideia é investir em equipamentos e sistemas que sejam menos nocivos ao meio ambiente e que sejam acessíveis aos pequenos produtores.
Além de aumentar a produtividade, esse tipo de tecnologia tem como objetivo minimizar os impactos ambientais da produção. Entre os principais exemplos estão o controle biológico de pragas, o uso de drones para monitorar a produção, e a aplicação da agricultura de precisão – um sistema de produção que utiliza tecnologia para criar condições ideias para o cultivo, baseando-se nas variabilidades de solo, clima, quantidade de insumos, entre outros.
Entretanto, muitas dessas tecnologias não são acessíveis aos pequenos produtores – o que prejudica sua competitividade e inserção no mercado, além de gerar um impacto ambiental negativo. Para Buainain, esse distanciamento entre a produção familiar e a tecnologia é gerado por uma série de motivos: “A falta de informação, a formação [do agricultor], a falta de acesso aos mercados, o custo da tecnologia, o fato dele [o pequeno agricultor] estar distante dos mercados (...). Precisaríamos de políticas muito mais claras e muito mais voltadas a esse objetivo”.
Na visão do professor, a tradicional separação entre “agricultura familiar” e “agronegócio” não corresponde à realidade do produtor familiar, além de prejudicar sua inserção nas cadeias agrícolas mais dinâmicas: “Não gosto dessa visão que opõe a agricultura familiar ao agronegócio. A maior parte dos produtores familiares está inserida no agronegócio. É uma segmentação entre agricultura familiar e agronegócio que é falsa, e é uma segmentação que atrapalha a agricultura familiar. Porque ao invés de produzir políticas para que os agricultores familiares possam se inserir melhor no agronegócio, pensamos em políticas para separá-los”.