ISSN 2359-5191

12/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 102 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Postura em adolescentes que praticam atividades físicas é analisada em pesquisa
Movimentos repetitivos do esporte podem influenciar tendência à alterações posturais, e é recomendado acompanhamento dos profissionais fisioterapeutas junto aos jogadores
Ilustração por Natalie Majolo

Para uma vida mais saudável, precisamos sair do sedentarismo e praticar atividades físicas regularmente. Os exercícios influenciam a estrutura do corpo, geram maior qualidade de vida e melhora postural. Fatores do ambiente em que a pessoa vive, assim como os físicos, podem alterar a força musculoesquelética do corpo imaturo do adolescente. Além da força, o desenvolvimento postural também pode ser influenciado pela flexibilidade, mobilidade e equilíbrio. A pesquisadora fisioterapeuta Patrícia Ferreira Guedes estudou a postura de adolescentes praticantes de atividades físicas e federados em basquete, e percebeu em seu trabalho que a postura e a mobilidade articular sofreram influência do treinamento de basquete.

Como estão em fase de crescimento, os adolescentes ainda possuem movimentação óssea até “fechar” a epífise de crescimento do osso. As alterações posturais que são diagnosticadas antes do término do crescimento (na fase adolescente) apresentam melhor prognóstico, traçando o provável desenvolvimento futuro. No gênero biológico masculino, a calcificação acontece até os 20 anos; no feminino, após a menarca (primeira menstruação). Devido à grande alteração hormonal que as meninas sofrem, apenas os meninos foram estudados.

O grupo atleta era composto por federados em basquetebol, e grupo controle os adolescentes faziam apenas aulas regulares de educação física na escola. Todos tinham entre 12 e 18 anos. Os atletas federados treinam cerca de 12 horas semanais, enquanto a atividade física escolar dura cerca de 3 horas. “É uma carga de tempo muito maior do que se eles tivessem apenas o treino de educação física normal”, diz Patrícia.

Para avaliar os 74 jovens, Patrícia fotografou os adolescentes de forma padronizada, nos planos frontal (anterior e posterior) e sagital (perfil direito e esquerdo). Para a análise fotográfica foi utilizado o sistema Sapo (Sistema de Avaliação Postural), que determina as coordenadas dos pontos anatômicos sobre as fotografias. O software indica se existe a possibilidade da pessoa ter ou não desvio postural. O estudo do alinhamento postural nas vistas anterior e posterior englobou 20 variáveis posturais, algumas em ângulos outras em centímetros, para depois se estabelecer um diagnóstico postural por meio de uma radiografia.

Os atletas apresentaram menor anteriorização da cabeça (inclinação para frente) e menor protusão do ombro (rotação para frente). Os adolescentes que só praticavam a educação física apresentavam uma postura semelhante a um “C” - frequente nessa idade. “Para quem tem cifose torácica [postura em ‘C’], o basquete é muito bom”, recomenda Patrícia.

Também foi feito um questionário para saber a dominância manual de cada um - a tendência de preferir usar uma das mãos para executar tarefas. No basquete, aparentemente, ambas as mãos são usadas de forma igual para o treino de bilateralidade. Entretanto, Patrícia constatou maior dominância manual direita em ambos os grupos. Ao avaliar a mobilidade dos braços, os atletas tendem a usar mais a extensão direita. é importante relacionar a dominância manual com a mobilidade e as alterações posturais em atletas, uma vez que, no basquete, apesar de ser enfatizado o treino da bilateralidade manual, há em algumas circunstâncias o predomínio de um dos membros superiores, na finalização dos arremessos em direção à cesta. “Se a pessoa tem um vício postural de rotação e inclinação do tronco, pode influenciar a tendência adaptações musculoesqueléticas e posteriormente fixar estas posturas”, como problemas de escoliose.

Uma tendência é a escoliose, que é deformidade tridimensional da coluna. A vértebra inclina, roda e flexiona. Existem diversas teorias sobre as causas da escoliose, como congênitas ou posturais. Portanto, Patrícia recomenda o acompanhamento do profissional fisioterapeuta nesses atletas - principalmente naqueles que sugerem tendência, como casos na família. “a escoliose é tridimensional e pode ser acentuada se não for feito uma trabalho de equilíbrio e alinhamento músculo articular com técnicas e orientações posturais específicas.”, diz. Entretanto, cada esporte tem seu gesto esportivo enfatizado - o que justamente pode influenciar no problema postural “ao invés de corrigir, o esporte sem acompanhamento pode só piorar a situação”, afirma.

Um feedback com orientações foi dado aos jovens para melhorarem sua postura, e evitarem maiores problemas no futuro. A pesquisadora também critica o conformismo diário das pessoas sobre sua postura. “É preciso fazer uma atividade física, despertar a consciência postural”. Ela diz que devido a correria do dia-a-dia, algumas vezes, adotamos uma "má postura, e tendemos a permanecer nela. Frases como “poxa, sou assim mesmo”, são recorrentes. “O conformismo é muito prejudicial, precisamos e podemos criar um olhar para o corpo”.

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