A enfermagem é considerada pela Organização Internacional do Trabalho uma das profissões mais estressantes da atualidade. Fatores como a carga horária elevada e a exposição ao trabalho em turnos alternados, bem como a exposição direta à situações psicologicamente fatigantes podem estar relacionados com o aumento do risco cardiovascular em profissionais atuantes da área oncológica, como aponta estudo feito por doutorando da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE USP), Juliano Santos.
A pesquisa foi realizada no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, localizado no Rio de Janeiro. Dentre os métodos de coleta de dados, mesclou-se tanto a utilização de medidas objetivas (coleta de sangue e pressão arterial) como subjetivas (entrevistas e autorrelatos), o que permitiu uma avaliação fidedigna da saúde dos profissionais. Outra diferença ocorreu na monitoração ambulatorial da pressão arterial (Mapa) além da medida casual da mesma. Esse exame, que realiza a mensura da pressão arterial durante 24 horas, pôde excluir possíveis erros e desvios nos resultados relacionados ao observador e ao ambiente.
A partir de então, concluiu-se que 28,2% dos enfermeiros em setores oncológicos apresentaram risco cardiovascular intermediário/alto; 40,4% hipertensão durante o período do sono e 58% uma sobrecarga no sistema alostático – um indicador de estresse crônico.
Segundo Juliano, os dados são alarmantes “principalmente se considerarmos que a população analisada é relativamente jovem, possui uma renda mensal elevada e tem acesso a lazer e esportes, ou seja, não está socialmente exposta”. E as consequências podem ir além: “Isso pode refletir na assistência prestada. Se formos pensar em um sentido mais amplo, esse profissional cansado, com sobrecarga alostática e exposto a um grande número de estressores pode sim estar exposto a uma maior chance de erro” e isso, “direta ou indiretamente implica na qualidade da assistência e na segurança dos pacientes a quem esses profissionais estão assistindo”.
Possíveis saídas
Algumas características do modelo de trabalho da profissão possivelmente contribuem para os resultados encontrados pela pesquisa. Uma delas é a carga horária, considerada por muitos extensa demais. Diminuí-la, contudo, é uma saída que deve ser tomada considerando os seus possíveis efeitos, que podem não ser os desejados.
“Mudar a carga horária é uma opção, além de políticas de afirmação institucional que forneçam alguma estratégia de enfrentamento – ter um serviço de saúde do trabalhador atuante e academia disponível, por exemplo. Desse modo, você garante que o profissional use o tempo para cuidados com a própria saúde”.
Para Juliano, rever os hábitos e estilos de vida dos trabalhadores ajuda muito, uma vez que 65,4% dos entrevistados eram sedentários, 69,7% apresentavam sobrepeso ou obesidade e 73,2% possuíam a idade corporal acima da real.
O trabalho, que já ganhou um prêmio no Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão em agosto de 2016 e o prêmio Alberto Ferrari Poster Prize no mês de junho do mesmo ano, teve a sua defesa apresentada no dia 8 de setembro, na EE.