ISSN 2359-5191

09/05/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 06 - Sociedade - Instituto de Estudos Avançados
Arquiteto e fotógrafo combinam olhares sobre a cidade

São Paulo (AUN - USP) - Um novo modo de olhar a cidade é o que propõe o arquiteto Paulo Melo Bastos e o fotógrafo João Musa em seu ensaio, na seção Criação, para o próximo número da revista do Instituto de Estudos Avançados da USP. O projeto foi idealizado para se comemorar o aniversário da cidade de São Paulo.

“Ver a Cidade“, no entanto, não são apenas fotos sobre a cidade com legendas de um arquiteto, nem um texto urbanístico com ilustrações, mas “um discurso que hora é escrito e hora visual”, diz Bastos. Essas duas formas discursivas mostram, segundo ao autores, como se pode ter uma multiplicidade de olhares sobre a cidade. O próprio título pode ser lido tanto como “ver a cidade” - enxergar, perceber a cidade - ou “veracidade”, como a cidade é de verdade.

“As fotos de Musa concretizam conceitos complexos de arquitetura”, diz Bastos. “Explica-los da maneira tradicional demandaria páginas e páginas de texto”, completa. E é essa a intenção da seção criação da Revista do IEA. Mostrar outro modo de se perceber os mesmos problemas sobre os quais os outros artigos da revista tratam, mas chegando às conclusões pela arte e não pela teoria, pela ciência.

As fotos do ensaio são de dois momentos diferentes na careira de João Musa, parte de 1980/81, parte de um projeto de retratos de bairro, a outra parte são fotos de sua tese de doutorado, realizada entre 95 e 98, cujo o título é “O viajante e a Cidade”. Durante a realização do primeiro trabalho, Musa viveu alguns meses vendendo retratos para as pessoas de Vila Prudente, um bairro pobre da periferia de São Paulo, para conseguir ser aceito pela comunidade e retratar as suas experiências. Já as fotos de sua tese de doutorado contam a história de um viajante que chegou a uma cidade deserta e repleta de estátuas.

O ensaio começa como que vendo a cidade de cima, são identificados os problemas da falta de planejamento para a população carente, que acaba invadindo as áreas de mananciais e de preservação; a descontinuidade e contradição na maneira como os bairros são urbanizados: uns são planos, arborizados, outros são verticais e espremidos.

Descendo um pouco mais começa-se a perceber que não existe uma única cidade, mas a cidade legal e a ilegal, que convivem lado a lado. Enquanto na primeira, as pessoas não são agentes da cidade, apenas passam por ela; na segunda, a necessidade de se conseguir o essencial faz com que as pessoas se manifestem e tentem melhorar onde vivem, faz com que sejam agentes.

Os espaços públicos da cidade são mostrados como degradados e sendo “um exemplo mundial de apropriação privada”, tanto pelos camelôs e pelos carros quanto pelo próprio governo que não cuida das praças, ao ponto que qualquer pequeno espaço não construído ganha o caráter de “praça pública”.

“As coisas são feitas para o homem, porém, em São Paulo, o homem é ignorado”, diz Bastos. “Mas mesmo assim as pessoas tentam juntar algo, qualquer coisa que for, para formar o seu espaço, mais humanos, como a cidade deveria ser”, conclui.

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