São Paulo (AUN - USP) - O acervo documental de Pierre Monbeig, geógrafo francês que lecionou na Universidade de São Paulo, foi organizado e classificado, 10 anos depois de sua chegada no Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Tudo se encontra agora num banco de dados no instituto, o que facilita o estudo do material. A responsável pela organização diz esperar que, logo, alguém tenha interesse em pesquisar todo o conteúdo, que é muito rico.
Pierre Monbeig (1908-1987) chegou ao Brasil em 1835 para dar aulas na Universidade de São Paulo, recentemente criada. Ele ministrou as disciplinas de Geografia Física e Humana e Geografia Humana, nos primeiros 11 anos em que permaneceu em território brasileiro. Nesse período viajou pelo país, fotografando e realizando diversos estudos sobre a realidade brasileira. Essas primeiras pesquisas resultaram teses e um livro sobre as frentes pioneiras do Oeste Paulista e do Norte do Paraná, chamado Pioneiros e fazendeiros de São Paulo.
Em 1990, sua esposa doou ao IEB parte da biblioteca e dos arquivos pessoais de Monbeig. No acervo estão manuscritos, cadernetas de viagens, apontamentos e anotações. A coordenadora do projeto do Banco de Dados Pierre Monbeig, Heliana Angotti Salgueiro, conta que ao tomar conhecimento da importância dos documentos e do descaso com eles, mesmo não sendo uma geógrafa, quis assumir o compromisso.
O projeto, da FAPESP, durou cerca de cinco anos e contou com estagiários e viagens à França. Os trabalhos de campo também se deram no Brasil, nos mesmos locais visitados e analisados por Monbeig. Para uma análise da evolução das frentes pioneiras, que ele havia estudado, foram tiradas fotografias dos mesmos locais que ele fotografara, décadas atrás, em Marília e Presidente Prudente, por exemplo.
O acervo de suas imagens está em posse de um instituto francês. E até o projeto brasileiro começar, também não havia sido catalogado. Para que a organização de todos os documentos fosse mais completa, Heliana propôs a esse instituto uma parceria. Ela recebeu as fotos digilatizadas e pôde relacioná-las às anotações do geógrafo. No Banco de Dados, agora é possível ver as fotos com as legendas manuscritas, que foram digitalizadas, e as imagens referentes aos textos escritos por ele.
No total, os documentos do Instituto de Estudos Brasileiros da USP somam 1.200. Esse número poderia ser muito maior. Uma grande parte dos documentos dos primeiros 11 anos em que Monbeig esteve no Brasil se perderam ou foram descartados por ele, e de acordo com sua grande atividade nesse período, estima-se que eles eram muitos. Heliana conta que essas perdas se deram porque o professor era ''uma pessoa sem vaidades'', era muito ocupado, e por isso não devia ter muita preocupação com o arquivamento. Ela ressalta que por esse fato, o acervo atual se torna mais precioso ainda.
O projeto terminou em 2005 e concluído com o livro Pierre Monbeig e a geografia Humana Brasileira, lançado no final de 2006. Com sua missão cumprida cabe agora a pesquisadores estudar toda a obra do francês e sua riqueza produzida ao longo de 40 anos de dedicação ao Brasil.