Desde 1848, quando Phineas Gage, trabalhador de uma mina de carvão, teve seu córtex frontal atravessado por uma barra de ferro, essa região do cérebro vem sido estudada por pesquisadores de todo o mundo. Isso porque o acidente acarretou na profunda mudança de personalidade de Gage, o que deixou os estudiosos da época muito intrigados.
"Em outros pacientes com lesões em áreas adjacentes [ao córtex frontal], notam-se alterações em termos de impulsividade, estresse pós-traumático e compulsão por jogo, o que, no caso dessas pessoas, é desastroso por não conseguirem mudar de uma estratégia desvantajosa para uma vantajosa, levando a grandes perdas monetárias", diz o especialista Cyrus Villas Bôas, pesquisador do Instituto de Biologia da USP.
Tendo tudo isso em mente, Villas Bôas optou por pesquisar sobre essa região do sistema nervoso focando na tomada de decisões. Para o estudo, o pesquisador utilizou ratos em algumas experiências.
A pesquisa foi baseada nas decisões tomadas pelos animais quando colocados em labirintos. Além disso, um método mais simples envolvendo chocolates também se revelou muito eficaz para a pesquisa: "Esse experimento permitiu avaliar a atividade dos neurônios do córtex orbitofrontal na elaboração de estratégia tanto em um único dia de teste quanto ao longo de todos os dias registrados, possibilitando-nos avaliar a atividade elétrica dos neurônios dos animais na elaboração de estratégias", afirma Villas Bôas.
Os testes levaram à conclusão de que córtex orbitofrontal exerce papel fundamental em calcular o balanço entre o ganho e o esforço associado, além de que, quando uma tentativa apresenta uma solução muito discrepante, os animais requerem um menor processamento pela mesma parte do cérebro.
Esses fatos são muito relevantes para a sociedade científica, pois ajudam na compreensão do sistema nervoso. "Acreditamos que nossos resultados possam contribuir para o entendimento de funções específicas das regiões avaliadas, tornando mais robusta a discussão sobre a participação dessas regiões no processo de tomada de decisões", conclui o pesquisador.