ISSN 2359-5191

31/10/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 124 - Meio Ambiente - Pró-Reitoria de Pesquisa
Núcleo da USP conclui primeira fase do inventário do Estado de São Paulo
Visando identificar e preservar o patrimônio geológico natural, pesquisadores instituíram metodologia inédita na América Latina
Imagem aérea da Baixada Santista. Foto: reprodução

Formado em 2011, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (GeoHereditas) insere-se na grande área de identificação e estudo da geoconservação, ou seja, a conservação do meio físico da natureza.

Entre seus principais projetos está o chamado Inventário do Patrimônio Geológico. Esse trabalho acontece em diversos países ao redor do mundo, tendo em vista que, por meio dele, é possível reconhecer locais com importância geológica e merecidos de serem preservados. A produção do documento tem vários objetivos, como conta a geóloga e pesquisadora do núcleo Maria da Glória Motta Garcia: “Uma das nossas grandes questões é voltada ao patrimônio geológico de valor científico. Há lugares sobre os quais muitos estudiosos já se debruçaram para dar origem a teses e dissertações, por exemplo. A ideia de preservar essas áreas serve, além da preservação em si, justamente para que, futuramente, outras pessoas possam apropriar-se delas para fins de estudo”.

Além do valor científico, há determinados locais que possuem elementos geológicos extremamente importantes para algumas culturas. Outros são usados para rituais religiosos, ou ainda destinos turísticos. “Pensemos que o município X possui um local de grande importância reconhecido por nós, pesquisadores”, sugere Garcia, “e que, em grande parte das vezes, ele não conhece ou não sabe como agir em relação a isso. Nosso papel é comunicar às autoridades locais que, quando forem fazer qualquer obra, como um túnel ou linha de metrô, aquele afloramento está lá e precisa ser preservado. Tem que encontrar um jeito de fazer a obra não passar por ele”.

Planície litorânea com Serra do Mar ao fundo

Planície litorânea. Ao fundo, a Serra do Mar. Foto: GeoHereditas

Com a fase inaugural recém concluída, os pesquisadores no núcleo coordenaram o primeiro inventário de todo o Estado de São Paulo, dentro do grande programa internacional da criação de inventários ‒ foi o primeiro dessa natureza na América Latina. Apoiado pelo Ciências Sem Fronteiras, o projeto trouxe ao Brasil José Brilha, geólogo português e responsável pelo inventário do patrimônio geológico em Portugal, para atuar como consultor. Ao término da primeira etapa, o programa brasileiro cadastrou 142 geossítios no estado paulista. “Os dados coletados foram seriados e classificados de acordo com o valor científico e o risco de degradação que o local sofre. Agora, esses dados serão entregues ao Instituto Geológico, que é quem trata da gestão das áreas”, conta a geóloga. Ela ainda adianta: “Temos a intenção de fazer um site interativo do inventário, no qual pesquisadores poderão opinar sobre os resultados obtidos e sugerir novos locais que não foram contemplados inicialmente”.

O trabalho do núcleo, porém, vai mais além. Existem esferas de estudo fundamentais para a concepção de construção do mundo que são totalmente desconhecidas pela quase totalidade dos cidadãos. “As pessoas vêem um granito, mas não sabem da relevância dele, nem porque ele está ali. Há diversos papers, mas todos dentro das universidades. O grande público não têm acesso”, afirma Garcia. Pela falta de informação, áreas históricas e valiosas estão sendo destruídas. Esse é outro viés da missão do GeoHereditas: participar do ordenamento territorial, influenciar na gestão do território e empoderar a sociedade com informações sobre o patrimônio que ela tem, para criar nela o sentimento de obrigatoriedade em protegê-lo. 
 
No que se refere ao último objetivo citado, o núcleo instalou, recentemente, doze painéis no litoral norte de São Paulo com dados geológicos descritos de forma bem simples e lúdica, na tentativa de conscientizar a população da riqueza natural local e mostrar a relação da paisagem com a geologia. “Nosso trabalho é produzir um conteúdo bem dinâmico, tal como é a ciência”, conclui a pesquisadora.


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