São Paulo (AUN - USP) - A União Européia (U.E) está grávida e os 27 países membros não sabem o nome do bebê. Isso foi colocado por Marc Vogelaar, cônsul-geral do Reino dos Países Baixos, em evento do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O encontro reuniu várias representações diplomáticas que, entre uivos de um cão, risos e seriedade, discutiram os 50 anos da U.E.
Foi abordada a questão da Constituição Européia, negada pelo povo holandês e francês. Os cônsules presentes (França, Alemanha, República Tcheca e Países Baixos) foram unânimes em dizer que a construção de uma Europa unida sempre foi um processo longo e aberto para discussões. "Sobre o futuro, não sabemos nada. A presidência alemã da U.E está se empenhando na busca de um diálogo aberto", falou Michael Moscovici, cônsul da Alemanha para assuntos políticos e de imprensa.
A conversa aberta dos países membros e o futuro incerto podem ser resumidos na frase de Vogelaar. "A União Européia está grávida e os 27 países membros não sabem o nome do bebê. A conversa dever ser mais pragmática e menos dogmática."
Hervé Théry, professor francês da Universidade e mediador do encontro, disse que se o império inglês nunca teve uma constituição e dominou boa parte do mundo, então o mesmo pode acontecer com a U.E, desde que as regras sejam mutáveis.
Migração e Novos Membros
A livre circulação de pessoas na Europa significa também a livre circulação para os estrangeiros que cruzaram a fronteira da União Européia legalmente, disse Jean-Marc Gravier, cônsul da França, que teve um ataque de risos por conta de um cão que uivava durante o seu discurso.
O Espaço Schengen, criado em 1985, compreende 13 países e permite essa livre circulação de estrangeiros por até três meses. Os brasileiros não precisam de visto para esse período. Depois desse tempo cada país tem a sua regra para permitir a estada da pessoa. É nesse ponto que se abre brechas para a migração ilegal.
A U.E lançou, pelo tratado de Amsterdã, uma séria de regras e alvos para a imigração. Foi criada na Polônia uma agência para a área. Os europeus também passaram a responsabilizar a companhia aérea que realizar o transporte de passageiros ilegais, além de procurar uma política de co-desenvolvimento para coibir a migração desde os países de origem.
Estudantes e pesquisadores gozam de estatutos diferenciados. Profissionais da área de ciência podem até receber salários durante dois ou três anos, desde que mantenham vínculos com alguma instituição de pesquisa no país de origem.
No entanto, a livre circulação de pessoas não está acessível de maneira total para todos os países membros. Os tchecos, que entraram na U.E em 2004, só podem circular pela Europa, mas não podem trabalhar nos outros países. Stanislav Kázecký, cônsul da Rep. Tcheca, revelou certa expectativa do povo de seu país em ver essa proibição cancelada.
Mas a alegria de poder sair de um país que, durante a Guerra Fria, fez parte da Cortina de Ferro ficou marcada nas palavras de Kázecký. "Quando eu olho para o meu passaporte e vejo que está escrito U.E, lembro do tempo em que não podia sair do meu país e tenho certeza que esse tempo não voltará jamais."
Economia
"Quando eu era jovem era caro para comer camembert e comprar vinho italiano", declarou Vogelaar. As palavras do cônsul representam a importância da União para o comércio dos países.
A União Européia concentra mais de 18% do volume de importações e exportações mundiais, sendo considerada a primeira potência comercial do planeta.
Os europeus têm a percepção de que somente com a U.E eles voltarão a disputar, em pé de igualdade, com os Estados Unidos, Japão e, mais recentemente, a China. Para isso os europeus devem se concentrar em áreas que historicamente são fortes. A estratégia é conhecida em economia como utilização das vantagens comparativas.
Vogelaar afirmou também que o crescimento virá por si só e que qualquer tentativa forçada causará resistência. O cônsul disse que a U.E já é uma potência econômica, mas ainda não uma é potência no plano político. "A U.E ainda se apresenta como um pigmeu tímido preso em antigas convicções políticas."