Com 22 medalhas olímpicas, o judô é o segundo esporte que mais deu premiações ao Brasil na história das Olimpíadas, perdendo apenas para o vôlei, com 23. Desde a sua primeira participação nos Jogos, em Tóquio-1964, o treinamento dos atletas brasileiros evoluiu bastante até alcançar os ótimos resultados, comuns atualmente. E a melhora na preparação dos judocas olímpicos é o tema da pesquisa do professor Emerson Franchini, da Escola de Educação Física e Esporte da USP.
Para a realização da pesquisa, o professor elaborou questionários para cerca de 60 atletas, que englobam as 96 participações brasileiras nas Olimpíadas, já que alguns participaram de mais de um evento, de Tóquio até Pequim (2008). “A ideia era verificar a evolução no treinamento e ver se isso refletia em resultados nas competições olímpicas”, diz Franchini. Os atletas participantes responderam perguntas sobre “tudo que o judoca pode fazer em termos de treinamento”, segundo o pesquisador, com o objetivo de observarmos se a forma de treinamento entre o seleto grupo de medalhistas olímpicos e o de não-medalhistas diferia de alguma forma. O estudo buscava analisar como diferentes modos de treinamento culminavam em diferentes resultados.
A conclusão mais significativa da pesquisa sobre uma possível diferença entre casos de sucesso, que medalharam, e casos normais, que não medalharam, foi que, no treinamento dos atletas medalhistas, era comum que o tempo de treino “com pegada” ― como é chamado o exercício que trabalha o contato físico ― fosse um pouco maior, enquanto os não-medalhistas apresentaram uma leve preferência pelo treino “de solo”. O importante, no entanto, foi conseguir definir um retrato do que, teoricamente, um judoca precisa fazer no treinamento para chegar no alto nível das Olimpíadas. “É um retrato do ‘mínimo’. Muito provavelmente, quem fizer algo muito além (ou aquém) disso, pode se expor e se lesionar ou chegar destreinado”, completa Franchini.
Segundo o professor, o principal fator de evolução no treino do judoca olímpico brasileiro, que permitiu que o país se tornasse uma potência no esporte, foi o aumento da dedicação exclusiva do atleta à luta. Até as décadas de 80 e 90, o lutador precisava de atividades complementares para que sua renda financeira fosse suficiente. A necessidade de ter outros trabalhos tinha como consequência a não prioridade do treino de judô que, por sua vez, impossibilitava que o atleta chegasse no rendimento básico para um campeonato olímpico.
A partir da década de 90, porém, os judocas passaram a se dedicar exclusivamente e profissionalmente ao judô, o que os capacitou a tirar seu retorno financeiro do esporte e alcançar o nível de treinamento necessário para bons resultados nas Olimpíadas. O aumento do suporte multidisciplinar, que vem acompanhado de uma divisão de treinadores e profissionais que auxiliam o atleta, também resultou em consequências positivas para o esportista. Anteriormente, era comum que o judoca tivesse somente um treinador responsável por toda a sua preparação. Depois, vieram as presenças de terapeutas, preparadores físicos, médicos e outros dentro de uma mesma equipe, que ajudam nas especificidades e no preparo da carreira do esportista.
Franchini conclui que a melhora da estrutura do esporte, nacional e mundialmente, além de programas de auxílio pensados pelo governo, são fundamentais para que o atleta possa se dedicar de forma íntegra ao esporte e ter seu treinamento em crescente evolução, o que o possibilita chegar a desempenhos e resultados cada vez melhores e mais expressivos para a categoria.