São Paulo (AUN - USP) - Antidepressivos causam alterações no humor de pacientes e de pessoas normais. Esse foi o resultado da pesquisa comandada pela professora Clarice Gorenstein, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Os antidepressivos são usados não só no tratamento da depressão, mas também em pessoas com qualquer forma de doença psiquiátrica. Quem tomava esses medicamentos relatava que se sentia diferente. Para comprovar essa mudança foram ministradas doses para pessoas normais. O resultado foi a comprovação da alteração do humor e do comportamento.
Os usuários de antidepressivos diziam que tinham sua personalidade alterada, os que eram tímidos deixavam de ser, quem era irritado não ficava mais. Eles diziam que sempre foram assim, portanto a timidez e a irritação nada tinham a ver com a doença.
"Não se sabia se a pessoa sempre foi assim de verdade ou se ela sempre foi doente, ou, ainda, se a lembrança já era a de uma pessoa doente", diz Clarice. Para comprovar o que os pacientes diziam era necessário trabalhar com um grupo de pessoas normais.
A pesquisa considerava como normais as pessoas que não tiveram nenhum tipo de problema mental e físico e que não possuíam nenhum parente de primeiro grau com problemas. Esse padrão reduziu o campo de pessoas não doentes da pesquisa.
"Eu estou até mais tolerante, estamos na quinta semana de medicamento e eu consegui bater o recorde de ir três finais de semana no shopping com minha mulher", afirma, em um vídeo, um voluntário identificado como Cláudio. Ele sentiu que o efeito era artificial, pois voltou a se sentir como um adolescente, ou seja, a um comportamento que não era mais o seu natural.
Eram ministradas pequenas doses de um antidepressivo amplamente utilizado (clomipramina), de efeitos colaterais pequenos. Em um período eram entregues doses do remédio e em outro eram entregues placebo, justamente, para ver se as alterações permaneciam, fato que não foi observado. Os dois voluntários, que reclamaram dos efeitos colaterais e abandonaram a pesquisa, estavam tomando placebo.
Os antidepressivos não estão associados ao sistema de recompensa e do prazer. "Os antidepressivos nos modelos animais não induzem a auto-adminstração, diferentemente do álcool e da cocaína.", afirma Clarice. (clique aqui para ler mais sobre o sistema de recompensa e o álcool).
Essa especificidade do antidepressivo afasta a probabilidade dele ser vendido como um pílula milagrosa anti-estresse. Essa tentativa se delineou quando o Prozac, que tem como principio ativo a fluoxetina, foi lançado.
A pesquisa agora procura analisar as regiões do cérebro que são ativadas pela clomipramina e desvendar qual tipo é o motivo da regulação que ela realiza. A professora do ICB também procura novos voluntários para concluir a pesquisa.
Os interessados em participar como voluntários na pesquisa devem entrar em contato pelo e-mail: rafaelkato@usp.br