São Paulo (AUN - USP) - Embora sejam travados muitos debates sobre poluição ambiental, pouco se fala que grande parte desta sujeira é proveniente de resíduos da construção civil despejados nas ruas. Este assunto foi um dos temas tratados num ciclo de palestras que ocorreu na Escola Politécnica da USP (Poli). O evento aconteceu no Dia Mundial do Meio-Ambiente, 5 de junho.
De acordo com o professor Vanderley John, responsável por uma das palestras, cerca de 75 por cento do que é retirado da natureza acaba na construção civil, seja na forma de cimento, aço e outros produtos. Quase todos os resíduos que daí se originam não são biodegradáveis. Além disso, as matérias-primas usadas são, em grande parte, não renováveis. Para se ter uma idéia, em Londrina, cidade do Paraná, não é mais possível produzir cerâmica vermelha, uma vez que a argila da região se esgotou.
Diante disso, segundo o professor, a prefeitura acaba aplicando imensos recursos financeiros no setor, verba esta que poderia ser utilizada para atender a outras necessidades da população, como educação e saúde.
Uma solução que Vanderley apresenta é a reciclagem destes resíduos, que poderiam ser reutilizados em novas construções. “Os resíduos são a matéria-prima do futuro”, comenta. No entanto, ele acredita que a medida só será eficaz se adotada em grande escala, não por pequenos grupos como é realizada atualmente. Outro obstáculo mencionado seria a própria administração pública de São Paulo, pois quando um novo prefeito assume o cargo, dificilmente ele dá continuidade aos projetos do governante anterior.
Uma proposta é o uso de pavimentação com este produto reaproveitado, que os especialistas chamam de agregado reciclado. Este consiste em resíduos da construção civil dos quais se retiram materiais indesejáveis, como vidro e metal. Parte da pavimentação da USP Leste foi feita com este agregado, procedimento coordenado por professores da Poli. Liedi Bernucci, professora que participou do projeto, destaca que esta poderia ser uma alternativa interessante a ser implementada em áreas carentes da cidade, que geralmente não possuem pavimentação.
Além de evitar o desperdício, o pavimento ecológico também permite economia de recursos financeiros. Em média, o valor do metro cúbico de agregado reciclado é R$ 13,00. Já a mesma medida do material convencional custa cerca de R$ 27,00.
O evento sobre o meio-ambiente foi promovido por alunos de Engenharia Ambiental, um dos cursos oferecidos pela Poli. A programação incluiu, além de temas relacionados aos resíduos da construção civil, palestras sobre os efeitos da elevação do nível do mar sob o ponto de vista da Engenharia Costeira, Portuária e Ambiental. Foram abordados os danos que o aquecimento global causa às estruturas das obras de engenharia. Com as alterações climáticas, a durabilidade das construções fica comprometida e novos estudos são exigidos para solucionar o problema.
Outro assunto discutido foi a questão dos créditos de carbono, criados em 1997, quando foi aprovado o texto final do Protocolo de Kyoto (tratado que prevê a redução de emissões de gás carbônico, o principal responsável pelo aquecimento global). Nações industrializadas e desenvolvidas que não conseguem alcançar suas metas de redução podem comprar créditos de carbono através de projetos implementados em nações subdesenvolvidas que não possuem metas a cumprir.