São Paulo (AUN - USP) - A única maneira de reverter a situação de calamidade ambiental em que nos encontramos é reverter nosso modo de vida em direção à simplicidade. É o que defendeu o palestrante violonista Edson Hiroshi, agrônomo e professor de Pós Graduação da ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, campus da USP em Piracicaba, interior de São Paulo – em palestra na Residência Maria Imaculada, casa que abriga estudantes nos Jardins. Ao fundo, no datashow, um sorvete de casquinha sabor planeta Terra derretendo. À frente, Hiroshi porta um violão velho e não o pára de tocar até que cesse o tumulto, comum ao início de um evento. As expectadoras, um pouco mais de 50 jovens, surpreendem-se; vieram assistir a uma palestra sobre aquecimento global.

Durante a semana do Meio Ambiente (4 a 8 de junho), enquanto países do G8 preparavam seus discursos e propostas de conciliação entre desenvolvimento e sustentabilidade ambiental para a reunião na Alemanha, o professor ministrou diversas palestras como esta, utilizando música e poesia para tratar de um tema pertinente à atualidade. Ele, que afirma não ver às quatro horas diárias de televisão habituais ao brasileiro, aponta a ilusão em que vive a humanidade como estimulante do principal inimigo do meio ambiente, a “síndrome do consumo excessivo”.

Para ele, essa síndrome faz com que não nos demos conta da “pegada ecológica” dos produtos, ou seja, quanto eles custam ao meio ambiente desde a seleção de matéria-prima até a chegada às prateleiras das lojas. “Não nos damos conta de que cada vez que adquirimos um produto novo, este é lixo em potencial.”

Comunidade sustentável

Em 1995, foi lançado oficialmente o conceito de ecovila num encontro na Escócia, sediado pela Fundação Findhorn, que atualmente é considerada referência mundial como modelo de comunidade sustentável. A idéia expandiu-se e chegou ao Brasil; Hiroshi é um dos idealizadores da ecovila Clareando, localizada numa área de proteção ambiental na Serra da Cantareira, a cerca de uma hora e meia da capital.

A partir dos lemas “Construir sem destruir” e “Morar sem poluir”, a Clareando tem o intuito de praticar o desenvolvimento sustentável através de diversas técnicas, estudadas por universidades como USP, UNESP e UNICAMP e aprovadas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Na comunidade, por exemplo, a água da descarga é separada da água do chuveiro; a primeira é direcionada a uma mini estação de tratamento anaeróbio – sem oxigênio – e, em seguida, pode ser lançada ao solo para o aproveitamento de árvores frutíferas. A segunda é dirigida a um tratamento biológico que a habilita a ser utilizada em processos menos nobres, como a irrigação.

As casas são construídas, pelos próprios moradores, a partir de barro, bambu e madeiras de reflorestamento. Além de idealizar alternativas de moradia que proponham mínimos danos ambientais, as ecovilas estimulam uma aproximação solidária entre seus moradores, priorizando valores como a igualdade e o espiritualismo. Seguindo esses princípios, a Clareando também organiza acampamentos infantis em feriados e férias. Está aberta à visitação do público todos os finais de semana.