São Paulo (AUN - USP) - Uma em cada quatro mulheres vai ter depressão em alguma fase da vida. E não há prevenção. Os estragos na vida social dessas mulheres é enorme, assim como na economia mundial.
Na busca pela qualidade de vida, o Instituto de Psiquiatria da USP iniciou um estudo sobre os efeitos do hormônio masculino no tratamento da depressão em mulheres na menopausa.
E por que a testosterona? Seus efeitos mais comuns já são conhecidos, como aumento de massa muscular, libido, atenção. Mas ainda foi pouco estudada sua ação quando combinada a antidepressivos. Em homens que tinham a chamada depressão resistente, que não reage a nenhum tratamento, observou-se que a reposição hormonal ajudou no tratamento. Sabe-se também que, em certas fases da vida, as mulheres respondem melhor a alguns antidepressivos do que os homens, provavelmente por causa do estrógeno. Daí a idéia de se estudar a relação entre hormônios e o tratamento da depressão.
Existe uma polêmica de que mulheres entram na menopausa e ficam deprimidas. Segundo o Rodrigo Dias, responsável pela pesquisa, isso não é verdade. “O que acontece é mulheres que já tiveram depressão antes apresentam nessa fase novos episódios de depressão”. Ou então elas entram na menopausa e começam a ter vários sintomas próprios dessa fase, que são mais de cem. Muitos deles coincidem com os da depressão. Doutor Rodrigo, pesquisador de um grupo que só estuda doenças afetivas (Gruda), diz que “esse tipo de alteração pode ser tratada apenas com a reposição hormonal, que trata até uma depressão leve”.
Há ainda outros fatores que deixam a mulher mais vulnerável à doença nessa fase da vida, em que o estresse hormonal é prolongado. É nesse momento que o filho sai de casa, que ela está no auge da profissão, que o casamento começa a ir mal, o que contribui para o estado de depressão, porém sem causa hormonal. A menopausa não causa a depressão. Nessa fase, sua freqüência até diminui. A mulher fica mais deprimida na fase reprodutiva, e piora no pós-parto ou quando tem muitos filhos, casa para cuidar, família muito grande. Em compensação, segundo Rodrigo Dias, é a fase em que melhor responde aos antidepressivos.
O tratamento pode levar a vida inteira, como em diabéticos, dependendo do número de recaídas. Um dos objetivos da pesquisa é ver se o sintoma residual diminui. Para se ter uma idéia da importância desse “resto de depressão”, se um paciente pára de tomar o remédio nesse período, o índice de recaída é de 80 a 100%. O desempenho social nessa fase é próximo de quem está depressivo. “Tentar suicídio nessa fase é normal”, diz o pesquisador.
Outro objetivo da pesquisa, feita também através da Unesp de Botucatu, é ver se a mulher responde antes ao antidepressivo. Para isso, estão sendo selecionadas 64 mulheres com idade entre 45 e 65 anos, com depressão moderada a alta.
Depois de fazerem todos os exames, elas são divididas em quatro grupos. Durante seis meses, todos tomam o antidepressivo, a Venlafaxina. Junto com ela, um toma só a metil-testosterona, outro o estrógeno e a progesterona, outro os três hormônios e o último toma apenas o antidepressivo. O sistema é o chamado “duplo-cego”, ou seja, nem o médico nem o paciente sabem quem está em que grupo, para que não ocorra tendência determinado diagnóstico. Os remédios são dados em caixas numerada, algumas com placebos (cápsulas com farinha). A avaliação é feita através de um questionário e das observações do médico.