São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa com camundongos desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP (FMVZ) mostra que a posição ocupada pelo animal numa hierarquia social influencia seu comportamento durante o período em que está doente.
Ao comparar o comportamento de camundongos dominantes e submissos, percebeu-se que eles apresentam sintomas de formas diferentes frente a uma doença. Como desfrutavam de uma posição social mais confortável, os camundongos dominantes podiam apresentar mais intensamente as alterações comportamentais e priorizar o comportamento de recuperação. Já os submissos, como estavam convivendo com um indivíduo dominante, ainda precisavam priorizar os comportamentos sociais e de defesa.
A pesquisa foi desenvolvida a partir de experiências com camundongos tratados com LPS (Lipopolissacarídeo), molécula encontrada na parede das bactérias que, introduzida no corpo do animal, ativa o sistema imunológico e é capaz de provocar no organismo os mesmos efeitos que uma infecção real causaria.
Os camundongos foram organizados em pares de dominantes e submissos e divididos em três grupos de oito pares cada. No primeiro grupo, o LPS era injetado nos dominantes, no segundo, nos submissos e no terceiro grupo, nenhum dos dois era tratado com a molécula.
Observou-se que os dominantes em contato com o LPS apresentavam mudanças no comportamento como a diminuição da sua conduta ofensiva. Já os camundongos submissos que receberam LPS, não deixaram de demonstrar um comportamento defensivo semelhante aos que não foram tratados com a molécula.
As alterações comportamentais desenvolvidas em casos de doença, chamadas de comportamento doentio, são um conjunto de características como perda do apetite, diminuição da libido, febre e diminuição da locomoção. Essas alterações têm um caráter adaptativo e são importantes para a sobrevida do animal e da espécie, com explica o professor da USP, Luiz Carlos de Sá-Rocha, orientador da pesquisa.
Comportamento humano
Segundo o professor Sá-Rocha, os resultados obtidos com essa pesquisa podem ter relação com o comportamento humano.“Esses animais são bons modelos para entendermos o que ocorre com os seres humanos, apesar da diferença biológica gigantesca”, diz o professor, que ainda completa: “apesar dessa diferença, a maior parte dos medicamentos para humanos são desenvolvidas primeiros nesses animais”.