São Paulo (AUN - USP) - O olho sempre foi objeto de estudo e inquietação da humanidade. Críticos das teorias de Darwin usavam-no como argumento de que algo tão perfeito e complexo não poderia sair do acaso. Eis que se provou, posteriormente, que houve entre 40 e 60 formas diferentes de surgimento evolutivo dos olhos. A importância de analisar imagens é um processo biologicamente comprovado e é nesse princípio que trabalha o projeto CreatiVision, no qual se integra o pesquisador Roberto Marcondes César Jr., do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP.
A pesquisa se encontra no campo do reconhecimento de faces, aplicação importante da área de visão computacional. Dispositivos de segurança, controles de acesso, reconhecimento de patologias por meio da alteração de proporções da face e o desenvolvimento de uma interação mais amigável por meio dos computadores são nichos nos quais os “sistemas de visão terão papel muito importante”, afirma César Jr.. A análise de imagens digitais a fim de extrair informações já se faz presente de modo importante no dia-a-dia com o uso de webcams, tomografia computadorizada e ressonância magnética. O projeto visa ao aprimoramento de tais ferramentas por intermédio das ciências da computação.
Os mecanismos de visão computacional aparecem para melhorar a absorção de informações de profundidade referentes às imagens, já que há um processo de perda de informação tridimensional na visão humana ou na captação de imagens convencionais, projetadas, podemos assim dizer, em um plano bidimensional. É difícil saber, por exemplo, através de uma fotografia, se o nariz da pessoa está mais à frente que as bochechas. Essa noção de tridimensionalidade é essencial em aplicações como a criação de um museu virtual, a fim de se recuperar o modelo tridimensional das estruturas, e a definição de um ambiente virtual, aos moldes do famoso Second Life, em que se faz necessária a representação tridimensional de faces para “animar o avatar [representação gráfica de um usuário em realidade virtual]”.
O desenvolvimento de tecnologia em 3D ainda é muito incipiente, e o projeto está colhendo seus frutos iniciais, já que tem previsão de acabar entre 2010 e 2011. Seu primeiro resultado é uma dissertação de Mestrado a ser defendida no mês de agosto, no qual se adicionam dados em 3D a uma seqüência de vídeo, composta por várias fotos, como em uma animação. O foco dessa adição de informações é o rastreamento de objetos, ou seja, o acompanhamento de objetos ao longo da seqüência por meio de algoritmos (uma seqüência de instruções determinadas para alcançar um certo resultado) que os “seguem”.
O Grupo de Visão do IME-USP, um dos responsáveis pelo Projeto Temático "Reconhecimento de padrões: estrutura, dinâmica e aplicações", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), participa ainda de um convênio bilateral entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Brasil, que financia o pesquisador do IME e Luiz Velho, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), do Rio de Janeiro, e a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, de onde participa Matthew Turk, da Universidade de Santa Barbara, na Califórnia. Seu site é http://www.vision.ime.usp.br/~creativision/.