São Paulo (AUN - USP) - “Se esta fase do câmbio demorar, os efeitos serão deletérios”. Esta foi a previsão dada pelo jornalista Luis Nassif em uma palestra que abordava as perspectivas econômicas para o Brasil. O evento aconteceu recentemente na Escola Politécnica da USP (Poli).
Durante a palestra, Nassif fez duras críticas ao modo como a economia brasileira está sendo conduzida. Ele afirmou que o câmbio atual desfavorece investimentos, uma vez que os ganhos obtidos por meio de inovações geralmente são usados apenas para compensar a taxa cambial. A medida, inclusive, pode ser até gerar prejuízos, pois os concorrentes nacionais, atraídos pelo câmbio, muitas vezes deixam de aplicar recursos em tecnologia para importar insumos ou produtos acabados. Conseqüentemente, o mercado de trabalho também é afetado de forma negativa.
O jornalista mencionou que um dos grandes obstáculos é a falta de ferramentas de gestão, sobretudo por parte dos economistas que, segundo ele, conhecem pouco o universo das empresas. O palestrante fez uma analogia entre a economia e um jogo de xadrez, em que a mudança de lugar de um elemento pode comprometer toda a partida. “O grande jogador tem que ter noção de todas as peças e de como se dá o equilíbrio delas. Tem que ter muita intuição para saber como mexer em uma peça sem desguarnecer as outras”, comentou. Esta visão sistêmica também é necessária para a criação de mecanismos que auxiliem a gestão.
Nassif acredita que todo este contexto acaba gerando certo conformismo. Ele diz, por exemplo, que se tornou costume ouvir que o Brasil crescerá cerca de 4% ao ano. Enquanto isso, os demais países emergentes crescem a aproximadamente 7%. Taxas maiores são sempre prorrogadas para o ano seguinte. Ele critica a atual visão internacionalista, que sugere a união de mercados mundiais. De acordo com o jornalista, “Isso seria ótimo se todos os países estivessem num mesmo nível. Enquanto uns estão lá em cima e os que estão lá embaixo não se protegem, viram fornecedores de matérias-primas, que é o que caminhamos para ser”.
O primeiro passo proposto pelo palestrante para se pensar em um novo modelo é resgatar o orgulho de ser brasileiro. Além disso, devem ser recuperadas medidas que efetivamente desenvolvam o país, como gestão, tecnologia e inovação.
A presença do jornalista na USP foi parte das atividades da 16º edição da Semana de Cultura Empresarial (SCE), um ciclo de dez palestras que reuniram profissionais de destaque de diversas áreas de atuação. Temas como criatividade, liderança e inteligência emocional foram alguns dos outros assuntos abordados. Por tratar de questões de interesse geral, indivíduos de vários campos do conhecimento puderam participar.
O evento é promovido anualmente pela Poli Júnior, empresa sem fins lucrativos, formada por alunos de Engenharia da USP. Para André Uyeda, gerente de projetos da empresa e um dos organizadores da SCE, esta é uma oportunidade para que as pessoas desempenhem um importante papel social. “Nós estamos em uma universidade pública e precisamos retornar benefícios para a sociedade”, diz.
O gerente afirma ainda que a participação no evento também é uma chance para descobertas. Ele conta que já houve alguns casos em que o aluno estava determinado a desistir da carreira e, ao ouvir os relatos dos profissionais convidados, conheceu novos campos de atuação e resolveu permanecer na Universidade. “Eu mesmo, quando entrei na Poli, tinha uma visão muito limitada do que um engenheiro podia fazer. Nos inspiramos com e evento”, comenta.