São Paulo (AUN - USP) - Com a inclusão digital e a distribuição irrestrita de informações, as crianças latino-americanas terão aversão a regimes como os de Hugo Chaves e Evo Morales. É o que acredita o venezuelano José Luis Cordeiro, diretor do Millenium Project, projeto da ONU que foca nos recursos intelectuais das nações para a solução de problemas globais. Sua visão foi exposta em debate que participou de um ciclo de palestras ocorridos na FEA recentemente, o X SEMEAD (Seminários em Administração).
O economista e engenheiro de Caracas criticou as “nefastas experiências comunistas” de diversos Estados e propôs soluções polêmicas para que a América Latina enfrente os desafios da globalização.
“Vivemos em um tempo de explosão de conhecimento no mundo”, diz José Luis, no qual se deve tomar ações pragmáticas, desprovidas de cargas ideológicas e embebidas em inovações tecnológicas para que sua visão otimista de futuro se torne realidade. Visão esta que descarta a existência do socialismo e do capitalismo como os concebemos hoje, e que propõe uma forma econômica totalmente nova que os superará assim como fora descartado o feudalismo.
O Google Earth e o Wikipédia, segundo ele, são ferramentas extremamente poderosas e importantes que auxiliam na construção desse novo modelo de gerenciamento do conhecimento, que por sua vez influencia as relações econômicas e políticas da sociedade. Basta que uma criança acesse o programa do Google e tome conhecimento de “como se vive na Suíça e no Japão” para que programas de “governos populistas, frutos da desigualdade social”, percam força.
Ao criticar Estados latino-americanos cujos governos têm cunho socialista, José Luis chama atenção para a pobreza na qual vivem seus cidadãos. Questionado se a pobreza era agravada por embargos exercidos sobre tais países, como Cuba, ele responde dizendo que Taiwan também sofrera embargos vindos da China e, mesmo assim, obteve enorme crescimento econômico nas últimas décadas.
Ressaltou ainda os “benefícios da dolarização” de economias do continente, ao falar que a renda per capita de Porto Rico subiu a 1000 dólares mensais após a troca da moeda, enquanto a cubana continuou ao redor dos 11 dólares. José Luis participou do processo de dolarização do país, defendido por ele como estanque da inflação descontrolada. Para ele, “não há mais desculpas para o subdesenvolvimento, já que se sabe o que é bom e o que é ruim para o desenvolvimento de um país”.
Criticou também outra característica de países latinos: o número elevado de constituições. Disse que uma das causas da instabilidade do continente é a quantidade de constituições diferentes que regem o mesmo país. Enquanto a estável Europa tem raramente mais que duas ou três na história de cada país, a América Latina chega a ter, como no caso da República Dominicana, mais de 20.
Para Pedro Silva Barros, professor de Economia da PUC e aluno de Direito da USP, há certa inversão na argumentação do palestrante. “Não somos instáveis porque temos muitas constituições, temos muitas constituições porque somos instáveis politicamente”.
As perspectivas de José Luis Cordeiro foram expostas em evento polêmico em que o economista lançou seu livro El desafío Latinoamericano, que contém boa parte do conteúdo exposto no debate.