São Paulo (AUN - USP) - Quando se discute qualidade e produtividade em um espaço de trabalho e estudo, é comum associar apenas questões administrativas e financeiras às melhorias necessárias. Porém, com o seminário “Bem-Estar, produtividade e aprendizagem: ambientes para o trabalho e o estudo”, o Comitê de Qualidade e Produtividade de Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP pretende apresentar aos alunos, professores e funcionários da Universidade um debate dia 22, no Auditório Ariosto Mila, sobre o impacto dos espaços no rendimento de cada um.
A vice-presidente do Comitê, a Professora Doutora Sheila Walbe Ornstein, aponta como problemas intensificados pela falta de cuidado com os espaços o stress, doenças respiratórias, dores na coluna, lesão por esforço repetitivo (LER), entre outros. Ela explica que é possível aliviar esses danos com intervenções muitas vezes pequenas, como a reorganização do mobiliário.
Algumas dessas possibilidades são apontadas na exposição, já em cartaz, com diagnósticos e propostas para a própria FAU. Essas idéias vieram de alunos de arquitetura, que viram o contato com o meio ambiente como uma das principais necessidades em espaços de estudo e trabalho. A Profa. Dra. Roberta Consentino Kronka Mülfarth, responsável pela exposição, afirma que um reflexo dessa busca por um contato externo são as soluções inusitadas, como bancos de praça, muros, entre outros flagrantes da exposição.
A importância dessas janelas para o que acontece fora do ambiente de trabalho é reportada na evolução dos escritórios de grandes empresas desde os anos 50. Nessa época surgem os escritórios panorâmicos que, segundo Sheila, “de panorâmicos só tinham o nome”. Ocupando grandes pavimentos dos edifícios, eles tinham estações de trabalho centrais com o staff e salas na envoltória, ocupadas pela diretoria e presidência. A grande maioria dos funcionários, então, permanecia distante do exterior.
O passar dos anos levou a uma mudança na relação com o espaço. Vieram os escritórios retangulares, que aumentavam o contato com o redor, ao mesmo tempo que os elevadores e banheiros passaram a ocupar o centro dos pavimentos. Hoje, há um grande destaque para o trabalho em equipe, fazendo desaparecer as divisórias, porém o mais importante é que a relação tende a ser não territorial. Sheila explica essa nova forma de enxergar o espaço de trabalho com exemplos europeus, com estações de trabalho 24 horas e que operam por agendamento, ou seja, os membros do staff não possuem uma estação determinada, e realizam boa parte do trabalho fora do espaço da empresa.
Diversos pontos explicam essa tendência. Em primeiro lugar, o aumento do preço dos imóveis, exigindo um melhor aproveitamento do espaço e uma maior flexibilidade da empresa-sede. Além disso, a mudança do sistema de comunicação e a Internet, com o aumento dos pontos de conexão wireless possibilitam que assuntos menores sejam resolvidos fora da área tradicional.
Por fim, esses novos escritórios vão de acordo com o controle de produtividade medido por produto e não por hora, como explica a professora Roberta. Quando os funcionários são contratados por projeto, criam-se ambientes mais informais, agradáveis e relaxantes. Segundo Sheila, todas essas intervenções são guiadas por uma idéia de humanização, seja com ambientes coloridos, confortáveis ou mesmo acessíveis para cadeirantes e deficientes visuais.