São Paulo (AUN - USP) - O Brasil não explora suas potencialidades de organismos modelo em pesquisas biológicas. A afirmação é de Carlos Eduardo Winter, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB/USP). Na última sexta-feira (24), Winter deu uma palestra sobre tema no Instituto de Biociências (IB). “Organismos modelo são seres vivos simples e fáceis de manusear que estudamos para entender organismos mais complexos. Temos exemplos clássicos como a ervilha, milho, drosófilas [moscas de banana] e camundongos”.
Mas, apesar da sua biodiversidade, o país não consegue produzir pesquisas inovadoras em relação aos organismos utilizados como modelo. Winter cita o exemplo do marsupial popularmente conhecido como cuíca. “[A cuíca] é um mamífero com significativa presença em território brasileiro e tem características desejáveis: há disponibilidade, o ciclo de vida é relativamente curto, é pequeno e fácil de manusear. Mas as primeiras pesquisas em que ele foi utilizado foram feitas por cientistas estrangeiros”, afirma.
O professor identicou também uma tendência, nos países periféricos, de que predominem como modelos organismos ligados a doenças endêmicas locais. “No Brasil, a maioria das pesquisas desse tipo utiliza o Trypanossoma cruzi. Na Argentina, esse número ultrapassa os 50%. Isso está provavelmente ligado ao fato de a doença de Chagas, cujo causador é o tripanossomo, ainda ter ocorrência significativa nesses países”, afirma Winter. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos, por outro lado, não há predominância de nenhum organismo específico.
“Ao contrário do Reino Unido e dos EUA, o Brasil não cria modelos”, constata. Uma das causas do problema, segundo ele, é a forma como a pesquisa é financiada no Brasil. “O financiamento não pode funcionar no Brasil como funciona nos países centrais. São realidades diferentes e, por isso, são necessárias políticas diferentes”. Segundo ele, a metodologia empregada para a liberação de recursos prejudica a pesquisa básica e, em longo prazo, também a pesquisa aplicada.
A análise de Winter foi baseada em informações do site Web Of Science, um banco de dados online sobre produção científica em todo o mundo. Winter observou a utilização dos modelos em diferentes países e a evolução desses números entre 1974 e 2007. O panorama foi traçado levando em conta aproximadamente 42 mil artigos, produzidos na Alemanha, Argentina, Brasil, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Índia e Reino Unido.