São Paulo (AUN - USP) - Os jogos de videogame estão cada vez mais violentos e, recentemente, fizeram mais uma vítima. Não se trata de um soldado inimigo ou de um perigoso alienígena, mas de um garoto de 12 anos. Ele foi assassinado após se desentender em uma partida on-line com um jovem 4 anos mais velho. Este não foi o primeiro e nem será o último caso de violência motivada pelo games.
De acordo com o professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME/USP), Flávio Soares Correa da Silva, os games proporcionam novas formas de interação social, econômica e cultural, que atuam de maneira complementar no nosso modo de nos relacionar com as pessoas. “Os games on-line podem ser muito saudáveis e interessantes. O problema surge quando as pessoas, muitas vezes descontentes com as formas de interação anteriormente praticadas, passam a substituí-las por games”, explica.
Nesse caso, da Silva coloca que os games criam a oportunidade para que um desequilíbrio social latente se manifeste, o que pode ser prejudicial para o indivíduo e, em casos extremos, levar a atitudes descontroladas. “O desequilíbrio e a insatisfação são muito comuns em nossa sociedade atual, o que por outro lado pode também explicar o sucesso dos games on-line como mecanismo para extravasar essas condições”.
Contudo, engana-se quem imagina que os games on-line são atividades exclusivamente de pessoas que possuem um comportamento social insatisfatório. Pelo contrário. O modo como uma pessoa recebe essas novidades são indicativos de traços relevantes de uma sociedade e não sinônimo de desvios. Na Coréia do Sul, por exemplo, uma pesquisa local aponta que 95% dos adolescentes coreanos têm um convívio diário com os jogos. “Para a indústria esse modelo é bom, pois permite monitorar melhor os usuários, coibir a pirataria e fazer boas análises de marketing. Há entretanto aspectos culturais que podem levar a uma disseminação entre nós menor desse tipo de games do que o que observamos por em culturas asiáticas”, analisa o pesquisador.
Os aficcionados podem ficar tranqüilos. Casos como este são uma exceção e podem ser evitados com um trabalho de conscientização com os jogadores, como é feito na Coréia. “Este é o caminho para evitar a dependência sem precisar excluir possibilidades reais e disponíveis de conforto, lazer, e interações mais ricas”, conclui da Silva.