São Paulo (AUN - USP) - Recente pesquisa do Ibope revela: o brasileiro nunca passou tanto tempo na Internet. No mês de julho, os usuários residenciais ficaram 23 horas e 30 minutos conectados, um recorde. Se somarmos esse número ao tempo médio que gastamos assistindo à televisão ou em jogos eletrônicos, chegamos a uma constatação preocupante. Cada vez mais as pessoas dependem desses aparatos para trabalhar, se divertir ou até mesmo se comunicar.
A conversa é por e-mail; o namoro, virtual; os amigos, personagens de um programa televisivo. As relações interpessoais estão gradualmente sendo substituídas por uma relação homem-máquina que parece não ter limites. Um mundo dominado por máquinas não é mais ficção-científica.
Ainda não nos deparamos com robôs policiando as ruas como nas histórias de ficção dos quadrinhos e do cinema, mas, para o professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME/USP), Valdemar Setzer, o quadro é bem mais complicado do que o retratado pela nossa imaginação. “Em particular, um dos maiores problemas dos meios eletrônicos, isto é, TV, video games e computador/Internet, especialmente o último par, é que a principal influência negativa é subreptícia, passando-se no nível psicológico e psíquico”, conta. “A influência negativa desses meios é tão enorme que se pode afirmar com segurança que eles estão destruindo a humanidade”, avalia.
Segundo ele, a televisão é o mais tradicional inimigo da "independência" humana, porque coloca a audiência em um "estado semi-hipnótico, gravando todas as imagens em seu interior, e, com isso, diminuindo a auto-consciência e a liberdade". A qualidade da programação é altamente questionável. "Ela é conseqüência do aparelho e do estado de consciência em que ele coloca o telespectador. Além disso, nenhum programa pode "estimular a reflexão dos telespectadores", pois estes estão normalmente em um estado de sonolência", comenta.
Contudo, a velha caixa ganhou poderosos rivais nas últimas décadas na sua luta pelo tempo das pessoas, como o videogame e o computador pessoal. De acordo com Setzer, os videogames são ainda piores que a televisão. “Além de condicionarem pelas imagens, condicionam pelas ações do jogador. A dependência deles é ainda maior, pela excitação muitíssimo maior que provocam no usuário”, analisa.
Sobre os computadores, o cientista acredita que eles penetraram em todas as áreas de atuação humana porque trabalham a nível de nosso pensamento, isto é, simulam pensamentos, se bem que particulares. "O computador dá uma sensação de poder que, se frustrada (quando o usuário não consegue fazer algo que tem certeza de poder fazer) leva a uma excitação mental enorme: é por isso que as pessoas ficam presas ao computador e se desligam da vida", diz.
A evolução tecnológica na área da comunicação mudou o modo pelo qual as pessoas interagem, mas essa nova maneira de conversar nos escraviza. Portanto, se você passa horas a fio em frente a uma tela, fique atento: a tecnologia não precisa de robôs armados para nos dominar, basta colocar esses robôs no videogame ou em séries de televisão.