São Paulo (AUN - USP) - A população de baixa renda tem dificuldade em chegar ao fim do mês com o orçamento positivo. As razões e características desse endividamento financeiro foram o tema da dissertação de Mestrado de Sabrina Arruda Zerrenner, defendida recentemente na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP - FEA.
O estudo baseou-se em uma pesquisa feita com 204 pessoas nas ruas do centro de Santo André, no ABC paulista. Mais de 15,7% da amostra têm mais de uma forma de dívida e, em média, 55,3% da renda dos entrevistados são destinadas ao pagamento das mesmas. Os principais fatores desse quadro são, para Sabrina Zerrenner, a falta de planejamento dos indivíduos, a alta propensão ao consumo, o empréstimo recorrente do nome, a má gestão orçamentária e fatores externos como morte de familiares, desempregos e divórcio.
A maioria dos endividados cumpre suas obrigações com dificuldades, pois não pensa racionalmente em curto prazo. Age com base no impulso e na emoção, e poupa menos do que deveria. Quando se planejam, pensam apenas em parcelas que cabem no orçamento, e se esquecem de comparar as taxas dos fornecedores de créditos e de verem vantagens.
A causa do endividamento, para 43,1% dos entrevistados, é a falta de controle do bolso e de planejamento. Para 35,3% é o consumo desenfreado e 21,6% alega que acidentes pessoais, como o desemprego, são a razão por estarem no vermelho.
O maior objetivo da aquisição de empréstimos, para 32,4% dos participantes da pesquisa, é a tentativa de melhorar o bem-estar e a qualidade de vida. Para solucionar problemas, 14,7% se endividam, e 17,2% adquirem dinheiro emprestado apenas porque cabe no orçamento. Para o consumo, esse número é de 8,8%.
Ao pagarem as dívidas, 7,6% pensam em adquirir novos empréstimos, 20,8% sentem alívio e 32,5% se preocupam em ter o nome limpo na praça. O número de desesperados por terem gastado tanto com o débito é de 28,9%. Para reverter esse quadro Sabrina Zerrenner diz que a população tem de receber educação financeira, com informações que dêem subsídios ao não endividamento.
“O intuito inicial da pesquisa era ver como a educação financeira alterava a situação orçamentária desse público”, diz a pesquisadora. Porém, ela convidou cerca de 400 pessoas para um curso sobre o tema e apenas duas apareceram. Em conversa com os dois indivíduos presentes surgiu a idéia da nova dissertação.
Rafael Paschoarelli Veiga, professor de Administração de Empresas da FEA e um dos que compuseram a banca, elogiou o trabalho de Mestrado, pois, para ele, é um dos poucos temas da unidade que abordam a situação financeira da população menos favorecida economicamente.