São Paulo (AUN - USP) - Com discussões freqüentes sobre as reformas nos aeroportos desde o último acidente da TAM, que ocorreu há mais de um mês e deixou 200 vítimas, muitos especialistas têm questionado a viabilidade de manter um aeroporto urbano como Congonhas, local do acidente e de infra-estrutura comumente criticada. Para o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Candido Malta Campos Filho é importante manter o aeroporto da região metropolitana de São Paulo, porém algumas mudanças são imprescindíveis.
Para o professor, em primeiro lugar deve-se considerar que os inconvenientes causados pelos aeroportos são calculáveis e, portanto, previsíveis. Assim, basta-se levar em consideração o ruído produzido pelas aeronaves, as condições da pista e outros fatores de influência direta na vida dos moradores da região para que a convivência se torne viável. Candido defende essa proximidade ressaltando que essas são áreas que tendem a se urbanizar.
O desenvolvimento da envoltória dos aeroportos, segundo Candido, tem origem no grande número de empregos gerados.Tanto os funcionários quanto os usuários constantes do tráfego aéreo passam a procurar moradia e serviços próximos, diminuindo seus gastos. O resultado é a valorização imobiliária do bairro e uma aglomeração atrasada apenas por uma retenção especulativa, comum no mercado de imóveis.
O professor Candido Malta não duvida da capacidade dos técnicos e engenheiros brasileiros em planejarem toda a conjuntura necessária para se ter um aeroporto urbano em segurança. O que o arquiteto contesta, porém, é a habilidade em coordenar um planejamento de longo prazo, que possa ser seguido mesmo com a mudança de administração da cidade. Nem mesmo o Plano Diretor Estratégico Municipal de São Paulo, aprovado em 2002, possui uma definição clara sobre o assunto.
Ao criticar o planejamento central da cidade, o professor Candido Malta mostra-se preocupado com a função do espaço urbano não apenas pelo valor imobiliário, mas também pela importância na qualidade de vida e na política social. Com isso, o arquiteto estabelece a relação do aeroporto com a maioria dos paulistanos, que enfrentam mais horas nos congestionamentos do que nas filas de espera para voar. Congonhas é mais um reflexo do desligamento da população da metrópole com o centro histórico. O esvaziamento populacional em troca do Centro Expandido sobrecarrega o tráfego em direção à Congonhas, preferível se comparado com o aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos.
A situação dos aeroportos, somada à realidade discutida por Candido, é finalizada pela necessidade de se aliar as mudanças nas pistas e infra-estrutura ao transporte público, como uma linha de metrô que chegasse até Congonhas, aliviando o tráfego no Centro Expandido e, como diz o professor, “que vão se deslocando na cidade deixando um rastro de degradação urbana, traduzida no esvaziamento populacional e de atividades produtivas”. Se o centro histórico já tem seu abandono como certo, a cidade ainda pode evitar que o mesmo aconteça com regiões mais afastadas.