São Paulo (AUN - USP) - Quem conhece São Paulo já analisa o panorama da cidade com o trânsito, as ruas abarrotadas de carros e os motoristas furiosos. Mesmo assim, os usuários de transporte público são, em maioria absoluta, aqueles que não possuem condições de ter um automóvel, não os que preferem essa certa independência. Em uma palestra recentemente oferecida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, parte da Semana Ambiental da faculdade, o professor Marco Aurélio Lagonegro apresentou sua tese sobre o tráfego de São Paulo, investigando a origem desse efeito.
Lagonegro apresentou ao público a idéia do Rodoviarismo. Para ele, a hegemonia do setor automobilístico-rodoviário no Brasil, centrada em São Paulo, remete às entradas e bandeiras, quando a população já buscava uma mobilidade para o hinterland, ou seja, Estados localizados no interior do país. A estabilização de uma nova força econômica longe do litoral gerou demanda por uma ligação entre as regiões, algo possível já que havia o acúmulo de capital.
Entretanto, o processo do Rodoviarismo tornou-se mais visível já na República, quando Washintgon Luiz define que “Governar é abrir estradas”. Com a Lei 1406, de 1913, ele define que os presidiários trabalharão construindo estradas. Para Marco Aurélio, esse fato marcou o individualismo liberal sobrepondo-se a um certo socialismo do setor ferroviário, forte no sul do país. A indústria automobilística, atuante no Brasil desde 1888, já produzia carros desde 1893, e recebia incentivos fiscais principalmente em São Paulo.
Dessa forma, a gigantesca produção de automóveis no Estado de São Paulo consagrou o poder na economia brasileira. Para o professor Marco Aurélio, isso ainda faz parte de uma construção consciente do governo para um individualismo exacerbado, com uma “economia que gera economia”, ou seja, tem o fim em si mesma. Assim, o aumento do número de carros exige aumento das vias, que ampliadas possibilitam que mais carros circulam, aquecendo as vendas, e assim por diante.
Outro ponto da economia abordado por Lagonegro é o consumo de combustível. O professor afirma ser um retrocesso transformar o Brasil na “Arábia Saudita do etanol”, como afirmou Lula. Seria a volta ao tempo dos canaviais, diz ele, com certa ironia, reforçando o caráter brasileiro da busca por combustíveis alternativos, limpos. Ao mesmo tempo, as soluções adotadas para problemas com o transito são sempre internas, como o IPVA, rodízio, entre outros.