São Paulo (AUN - USP) - Alguns produtos muito consumidos por crianças e adolescentes, como salgadinhos de milho e biscoitos recheados apresentam diferenças significativas entre seus rótulos e as análises laboratoriais. Essa é a conclusão que a pesquisadora científica do Instituto Adolpho Lutz de São Paulo, Cássia Maria Lobanco, defendeu recentemente em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).
Através de comparações entre análises de laboratório e as rotulagens de itens salgados e doces, a pesquisadora concluiu que há diferenças importantes e que devem ser levadas a sério pelas autoridades de saúde como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“Todas os itens das amostras de salgadinho de milho e de batata frita foram condenados, ou seja, estavam em excesso ou em falta em relação aos padrões de análises estabelecidos”, afirma. Ela ainda explica que esses padrões consideram uma margem de aceitação de 20%, tanto para mais quanto para menos dos itens nutricionais (carboidratos, gorduras totais, gorduras saturadas, fibra alimentar, proteínas, valor energético, no caso dos doces e, também o sódio, nos salgados).
Os resultados chegam a ser alarmantes: das 25 amostras analisadas de salgadinhos de milho, 23 estavam em desarcordo com a lesgislação no item sódio, enquanto nos biscoitos recheados de 33 composições, 11 estavam condenadas no item gordura saturada – o tipo de gordura que pode trazer problemas cariovasculares. No amendoim, também foi observada diferença nesse item: de 10, quatro análises foram condenadas.
Ela aponta o fato de que esse tipo de estudo preocupa nutricionistas e órgãos governamentais devido o aparecimento de doenças em crianças antes só encontradas em adultos, como diabetes, pressão alta e obesidade. “É preciso que as autoridades responsáveis apliquem políticas de controle de venda desses produtos e também de estímulo para o consumo de alimentos mais saudáveis, principalmente com mais fibra alimentar”, afirma.
Algumas cidades, segundo ela, como Rio de Janeiro, Ribeirão Preto e o Distrito Federal, já estão se preocupando com a venda desses produtos nas cantinas escolares e formalizaram uma legislação sobre o assunto. “Até mesmo a própria ANVISA está muito preocupada com essa questaão, mas falta a conscientização das pessoas”. Ensinar desde cedo, crianças a ler e interpretar os rótulos dos alimentos seria uma saída a questão, assim como estabelecer um único padrão de metodologia par a insdustria de alimentos e para os pesquisadores, para que não haja diferenças na rotulagem. “Uma das causas dos resultados preocupantes pode ser a metodologia para rotulagem, já que a indústria pode usar uma tabela própria para fazer seus cálculos”, explica.
Mas, mesmo com a diferença de padronização, os dados apontam para diferenças entre rótulos e laboratório e devem ser divulgados, para que atitudes sejam tomadas. Os alimentos analisados dividiram-se em dois grupos: os doces (bolacha recheada, chocolate e wafle) e os salgados ( salgadinho de milho, salgadinho de trigo, batata frita e amendoim) levando em consideração os produtos mais consumidos por crianças e adolescentes.
A idéia da pesquisa surgiu do próprio trabalho que a pesquisadora vinha fazendo no Instituto, inclusive com algumas informações já coletadas.