São Paulo (AUN - USP) - Doenças, acidentes ou a própria idade avançada fazem surgir, dentro das famílias, a figura do “cuidador”, aquela pessoa que passa a ser responsável por suprir a independência que o doente perdeu. A sobrecarga física e emocional e a profissionalização desses serviços foram temas de um debate realizado recentemente na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).
Segundo a professora da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Ceres Eloah, conforme a situação financeira da casa, é o familiar mais próximo que vai exercer esta função, sendo que, na maioria das vezes, as tarefas não vão sendo divididas igualmente, acarretando uma sobrecarga tanto emocional quanto física à pessoa responsável. “As pessoas não querem abrir mão de suas vidas, de seus projetos para cuidar do idoso, o que leva a várias situações de conflitos ou até mesmo à própria desagregação da estrutura familiar”.
O impacto da dependência sobre as condições materiais da família é muito grande. “Não há substituição de tarefas anteriores à tarefa de cuidar, assim, o desempenho cotidiano, seja no domicílio seja no trabalho extradomiciliar, vê-se acrescido da tarefa de cuidar”, afirma José Luiz Telles, coordenador da área técnica de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde.
Outro ponto polêmico que ele levanta é o da compressão do orçamento, que precisa comportar inesperadas despesas com hospitais, transportes, medicações, equipamentos etc, mostrando-se um fator de sobrecarga para essas famílias.
Sentimentos de ansiedade, depressão, culpa, frustração (por não conseguir, em alguns casos, reverter o quadro do idoso doente), são comuns a essas pessoas e precisam ser trabalhados em grupos de apoio ou tratamentos terapêuticos. “O cuidador precisa de um espaço coletivo onde possa trocar angústias, experiências e dúvidas, e também onde perceba que não está sozinho nessa situação”, diz Telles.
Como o cuidado requer muita paciência, atenção e dedicação, sua qualidade de vida acaba sendo prejudicada. É importante, segundo Telles, atentar-se para o desgaste físico e emocional excessivo, previndo-o com atividades físicas regulares, alimentação - ingestão de frutas e legumes que contenham vitaminas, uma boa noite de sono e momentos de lazer - visitas à parentes e amigos, atividades pessoais, leitura, cinema, estudo. “Afinal ser um cuidador não significa negligenciar a própria saúde e vida pessoal”, conclui.
Porém, o dia-a-dia de um idoso, que aos poucos vai perdendo a independência, exige cada vez mais carinho e apoio familiar. Diversas pessoas, com a rotina corrida, acabam sem tempo para cuidar de si e do seu idoso, recorrendo, então, à ajuda profissional. Os altos custos das enfermeiras e dos lugares especializados em acolher e tratar pessoas, leva à procura por cuidadores formais, geralmente mulheres com mais de 40 anos, que vêem na ocupação uma maneira de contribuir com o orçamento familiar.
Yeda Aparecida de Oliveira Duarte, professora e especialista em Gerontologia da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, explica que o cuidador é necessário quando o idoso não mais consegue realizar atividades rotineiras sozinho, como fazer compras, pegar transporte, pagar contas em banco, tomar medicamentos, tomar banho, levantar-se da cama, entre outras.
Atualmente existem no Brasil cerca de 17,7 milhões de pessoas com mais de 60 anos, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, a cada ano, 650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira. Esses dados mostram a importância que essa categoria de trabalhadores vêm adquirindo. É fato que, com o passar dos anos, essa capacidade vai diminuindo. Estudos mostram que entre os 75 e 85 anos ocorre uma redução de 35% dessas habilidades, enquanto que depois dos 90, a porcentagem cai para 50%. Yeda ainda explica que o perfil do cuidador não é de profissional da saúde nem da assistência social, mas seu trabalho tem apenas interfaces com essas áreas, já que não recebem uma formação mais completa, como esses profissionais. Ainda há a questão da qualidade do serviço prestado, já que o cuidador não teria habilidades técnicas e embasamento teórico suficientes para realizar cuidados mais complexos. Nesses casos, a professora explica que o acompanhamento do profissional de enfermagem é o mais indicado.