ISSN 2359-5191

30/05/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 09 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Lógica fuzzy soluciona problemas biomédicos

São Paulo (AUN - USP) - “A palavra fuzzy, em inglês, quer dizer nebuloso, difuso”, explicou a pesquisadora Neli Siqueira Ortega. Era 25 de maio, o dia seguinte à defesa de sua tese de doutorado: “Aplicação da lógica fuzzy a problemas de biomedicina.” Conversamos em uma sala pequena e mal iluminada, no subsolo do prédio da faculdade de Medicina da USP. Tapumes e tábuas estendidos por todo o andar sinalizam a reforma que ainda não aconteceu. Enquanto isso, os funcionários do Departamento de Informática Médica da Pinheiros (uma das mais conceituadas faculdades de toda a América Latina) são forçados a trabalhar em um ambiente escuro e úmido. O que não impede que pesquisadores como Neli continuem a produzir conhecimento e desenvolver idéias que nada têm de nebuloso.

A cientista, formada pelo Instituto de Física da USP, optou, em sua tese de doutorado, pela interdisciplinaridade, unindo Física Aplicada à Medicina. Os resultados são surpreendentes: Neli e seu orientador, o professor Eduardo Massad, chegaram até a coordenar o processo decisório que culminou na campanha do governo de São Paulo para conter o avanço de uma onda de sarampo que tomou o Estado de surpresa, em 1997.

Mas, afinal, o que é a tal lógica fuzzy e qual a sua ligação com biomedicina? “A teoria fuzzy surgiu nos EUA, na década de 60 pelas mãos do professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, Lotfi Zadeh”, contou Neli. Na época, Zadeh trabalhava com questões ligadas à classificação de conjuntos que não possuem fronteiras bem definidas. A lógica fuzzy emerge como contraponto à noção clássica de que um determinado elemento pertence ou não pertence a um certo conjunto. Segundo a pesquisadora, a mais importante inovação introduzida pela teoria de Zadeh foi, justamente, a flexibilização do conceito de pertinência a conjuntos.

Uma abordagem fuzzy é especialmente útil quando a situação analisada apresenta imprecisões. “De fato, esta teoria tem demonstrado possuir grande capacidade de aplicação em problemas de biomedicina, dado o tipo de incerteza envolvido nos procedimentos médicos, biológicos e epidemiológicos”, afirma Neli em sua tese.

Por exemplo, o exame clínico, atividade típica da prática médica, envolve uma série de variáveis lingüísticas. O grau de manifestação de um determinado sintoma é definido pelo profissional, segundo critérios que se organizam em uma escala contínua e não discreta (dividida em unidades bem definidas). Na maior parte dos casos, pouco adiantaria agrupar quadros sintomáticos estabelecendo fronteiras rígidas entre eles. Em outras palavras, é muito difícil classificar os pacientes que se encontram entre os estados de “desconforto respiratório moderado” e “desconforto respiratório acentuado”, por exemplo. Daí a importância de uma lógica que “permita afirmações com valores entre Falso e Verdadeiro”, explica Neli em sua tese.

A aplicação da teoria fuzzy à prática médica oferece poderosas “ferramentas matemáticas para lidar com incertezas, imprecisões e verdades parciais, permitindo a tratabilidade de problemas do mundo real muitas vezes com soluções de baixo custo,” argumenta a pesquisadora. E foi partindo dessa premissa que, em 1997, Neli e seu orientador, professor Massad, desenvolveram um modelo - utilizando a teoria de conjuntos fuzzy - para escolher a estratéga de vacinação que seria adotada pelo Estado no combate a uma onda de sarampo. Implantada com sucesso, a estratégia selecionada articulava variáveis que iam da “adesão pela população” às “habilidades necessárias aos recursos humanos”, segundo uma escala de eficiência elaborada a partir da experiência de especialistas da Saúde Pública do estado de São Paulo.

E Neli já pensa no tema de seu projeto de pós-doutorado: “Será sobre algoritmos genéticos, redes neurais e lógica fuzzy aplicados à Biomedicina...”empolga-se a nova doutora do Instituto de Física da USP.

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