ISSN 2359-5191

28/09/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 50 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Mesa-redonda na USP debate a transmissão do conhecimento científico

São Paulo (AUN - USP) - O auditório foi abaixo. Havia quem propusesse medidas drásticas. “Eles deviam contratar um biólogo, um físico, um especialista de cada área para não falarem essas besteiras”. Gestos de aprovação e desaprovação à proposta nada ortodoxa da estudante eram vistos nas faces dos que acompanhavam o debate. O motivo de tamanho bulício foi um erro em uma matéria publicada num grande jornal diário de São Paulo. O texto dizia que o opilião é uma aranha de pernas compridas.

Embora tenha oito patas e seja conhecido também como aranha-alho, aranha-bode, aranha-cafofa e aranha-de-chão, o opilião não é uma aranha. Na verdade, o “bichinho” pertence à classe dos aracnídeos, assim como suas parentes mais conhecidas, mas é de uma ordem diferente. A confusão feita pelo jornal acerca da classificação do artrópode mostra como é difícil o processo da transposição didática. Traduzindo em vulgar: a transformação do conhecimento acadêmico, científico, em conhecimento ensinado a alguém.

Esse foi o tema de uma mesa-redonda ocorrida recentemente no Instituto de Biociências da USP, que fez parte dos eventos da X Semana Temática da Biologia. Dela participaram Sílvia Trivelato, da Faculdade de Educação da USP, Sônia Lopes, do próprio IB, e Milene de Franco, do Museu de Microbiologia do Instituto Butantan.

“O ensino de determinado saber só será possível se esse elemento sofrer algumas deformações que o adaptem ao público escolar”, disse Silvia. Um exemplo destas deformações é a descontemporalização do conhecimento. Em um ensaio acadêmico não se faz referência a um trabalho anterior sem que seja citada a data de sua publicação. Isso não é uma simples formalidade. O período em que foi produzido um determinado saber científico diz muito sobre os métodos da época, sobre o contexto em que ele foi produzido, o que pode ser uma informação importante para um cientista. Já na escola isso geralmente não nos é apresentado. Mas essa deformação não é necessariamente uma coisa negativa. Segundo a professora, “é um processo imprescindível, pois é impraticável transpor o conhecimento científico para o ensino médio da forma que ele é produzido”. O que não quer dizer ensinar errado. Sobre o erro do jornal, comentou: “Nesse caso específico, o problema é que quando você lida com uma mídia de grande alcance, deve-se ter cuidado para não deformar demais o conhecimento”.

Milene enfocou o assunto de uma perspectiva diferente, relatando como se dá a experiência de transposição didática em um museu de ciências. No Museu de Microbiologia, como forma de atrair a atenção do visitante para o trabalho do cientista, há uma série de atividades interativas. Como um laboratório, tão aparelhado quanto o de um pesquisador, no qual o público faz uma série de experiências com suas próprias mãos. “O que a gente quer com isso é despertar a curiosidade do visitante, fazê-lo ver como é o nosso trabalho”, diz a biomédica. O museu também dá “kits-experimento” às escolas públicas que o visitam, com material e instruções para se fazer as experiências.

Para Sônia Lopes, o educador deve ter a consciência de que não está formando biólogos. “O objetivo da educação básica é formar cidadãos”, diz. Assim, segundo a pesquisadora, ao pensar no conhecimento que se deve levar para a educação básica, mais importante do que dar conteúdos e detalhes de assuntos que já são abordados atualmente, é passar ao aluno as mudanças na maneira do pensar científico.

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