São Paulo (AUN - USP) - Ao caminhar pela praia, é comum que o banhista seja obrigado a pular os pequenos e sujos córregos que desembocam no mar. Para Cláudia Lamparelli, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), este nojo não é injustificado. Ela afirma que, no litoral de São Paulo, os esgotos são o principal poluidor das águas costeiras, superando o petróleo e o lixo industrial.
Os maiores responsáveis por este cenário são justamente os pequenos rios que deságuam no mar e recebem praticamente todo o esgoto produzido em boa parte das cidades litorâneas. Em Ilhabela, por exemplo, o saneamento básico existe para apenas 5% dos cidadãos. A situação se agrava no verão, quando a população e a vazão dos córregos aumentam muito, devido ao turismo e à maior incidência de chuvas, respectivamente.
Outro problema da poluição fecal é que ela ocorre ao longo de todo o litoral do Estado, ao passo que a contaminação por petróleo se verifica apenas no entorno da Baixada Santista e São Sebastião. O lixo industrial é encontrado somente no canal do porto de Santos.
A poluição fecal é responsável pela disseminação de diversos parasitas e vírus, como o da hepatite A. E os banhistas não são os únicos prejudicados: a fauna e flora marinhas são ainda mais frágeis que a saúde humana. De acordo com a classificação usada pela Cetesb, as águas salinas e salobras são divididas em quatro classes. Para a manutenção de um ecossistema, deve-se aplicar a primeira delas, que obedece ao critério mais rígido de preservação. A balneabilidade corresponde apenas à terceira.
No entanto, nenhuma área foi de fato enquadrada em uma destas quatro classes. A responsabilidade, segundo Cláudia, é da Secretaria do Meio Ambiente. Ela admite, contudo, que as dificuldades são muitas. O processo demanda tempo e dinheiro. Além disso, há cenários como o do canal de Santos, onde o porto e um manguezal dividem o mesmo espaço, criando problemas para a classificação.
Mesmo as cidades que despejam seu esgoto a quilômetros da praia, através dos emissários, acabam poluindo a costa. A água contaminada cria condições propícias para o crescimento excessivo de algas, o que pode causar danos ao sistema neurológico ou ao fígado, doenças respiratórias e alergias, além de ocasionar mortandades de peixes e outros organismos. “Em Santos, ainda, a poluição volta à praia”.
Cláudia afirma que a Cetesb fiscaliza, mas, para a situação se resolver, seria necessária maior pressão política. “As prefeituras reclamam das bandeiras vermelhas, que espantam os turistas”.