São Paulo (AUN - USP) - A tendência é que aumente o número de usinas nucleares em funcionamento no mundo. Diversos países, de vários continentes, como Coréia do Sul, Espanha, Reino Unido, Índia, China, Rússia e Paquistão, possuem projetos para a construção de usinas. Destacam-se nesse grupo a China, que possui quatro usinas em construção, e a Índia, que está erguendo seis.
Essa colocação foi feita pelo pesquisador RobertoVicente, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP (IPEN), em uma palestra que ministrou recentemente no Instituto de Biociências de USP, intitulada Impactos Ambientais da Energia Nuclear, na qual comparou a poluição gerada por diversas formas de produção de energia, como a nuclear, a eólica, a solar.
O pesquisador assinalou a dificuldade existente em se medir a poluição de uma matriz energética qualquer. Para exemplificar, falou sobre a poluição gerada por um automóvel. Além dos poluentes emitidos pela própria máquina, é necessário considerar aqueles decorrentes da sua produção, da produção do combustível e da construção das estradas em que ele roda. “Sem falar nas mortes e nos inválidos, permanentes ou temporários, decorrentes do trânsito”. “A gente ainda não possui a metodologia para medir esse impacto”, afirmou.
Fontes consideradas limpas, como a eólica, por exemplo, também agridem o ambiente. Roberto contou a história de alguns ambientalistas americanos que lutaram para a construção de uma usina de energia eólica na Califórnia. “Ficaram abismados com o número de águias-reais, águias-carecas que apareciam destroçadas diariamente por se chocarem contra as pás dos geradores”. Segundo o cientista, a repulsa de muitos ambientalistas à energia nuclear não tem razão de ser. A fabricação de painéis para a captação de energia solar causa danos ao ambiente. E na sua avaliação, dependendo do caso, muito mais do que uma usina nuclear, pois para abastecer uma cidade grande são precisos milhares de painéis solares, que podem ser substituídos por uma única usina.
Os rejeitos radioativos produzidos pelas usinas, que são uma das grandes procupações dos ambientalistas, para o pesquisador são a solução. Apesar de a quantidade de rejeito de alta atividade (que tem de ser armazenado por milhares de anos) produzida pelos EUA até hoje seja da ordem de 46 000 toneladas, o destino desse lixo tranqüiliza o cientista. “Todo o selênio, todo o cádmio e mercúrio produzidos pelo mundo estão por aí. Já esses rejeitos têm endereço”. Sobre se não haveria problemas de espaço para se continuar a armazenar o lixo nuclear nos próximos 200, 300 anos, Vicente respondeu que não. “Certamente. A quantidade de rejeitos produzidos é bem pequena”.