São Paulo (AUN - USP) - A internet é um meio no qual vozes múltiplas e distintas têm vez. Teóricos da Comunicação, na V Semana de Relações Internacionais da USP, opinam sobre como essa questão pode alterar a indústria cultural contemporânea, que hoje, para eles, tem papel fundamental nos rumos do entretenimento e das relações sociais ocidentais.
Numa das palestras da Semana, realizada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA) de 1º a 04 de outubro, a dicotomia da internet foi o centro das exposições. Vladmir Safatle, professor de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), e Rita de Cássia Alves, professora de Antropologia da PUC-SP, ambos especialistas no campo da Comunicação, divergiram sobre o assunto em palestra cujo tema era “A indústria cultural e a construção de discursos hegemônicos”.
Para a professora da PUC, as possibilidades da internet são brechas do sistema da indústria cultural, importantes para que se alterem as estruturas de poder na mídia. “Mesmo dentro de um contexto de consumo e monopolização da informação, há brechas para a transformação”, afirma Rita Alves.
“A indústria cultural atual é uma força hegemônica dominante, porém, com grande espaço de negociações e adesões das diferenças”, acrescenta a palestrante. Ela exemplifica o fato dizendo que temos hoje inúmeros “movimentos de mídia independente, jovens com produções alternativas e vídeos e músicas dos próprios usuários”.
Para o professor da FFLCH, a questão é um pouco diferente. Ele sugere que “é elemento constitutivo do processo de perpetuação de discursos hegemônicos o gerenciamento das brechas, das margens”. Safatle acredita que elas têm que existir para que as pessoas suportem e “aceitem o discurso hegemônico”, isto é, “não sejam sufocadas”.
“A idéia do ativismo [produção de conteúdo pelo usuário] é elemento que constitui o próprio funcionamento da cultura de massa” e “o processo de produção cultural atual vem de uma justaposição de traços diferentes e distintos”, afirma o palestrante.
Vladmir Safatle ressalta a pertinência desse ativismo social e diz que as intervenções alternativas são importantes. Porém, afirma que “essa própria idéia foi englobada e isso nos colocou um problema suplementar”. “Mesmo com tantos produtores [independentes], a Madonna ainda vende 35 milhões de discos”, acrescenta o professor.
Alternativa ou mero aparato reprodutor da indústria cultural, a internet, para ambos os palestrantes, é importante para a organização de movimentos sociais e para a expressão de idéias e opiniões múltiplas. Rita de Cássia afirma que no quadro atual ainda acredita “no sujeito, em atores sociais que pensam mesmo dentro do nosso ambiente de consumo”.