ISSN 2359-5191

06/06/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 10 - Saúde - Faculdade de Medicina
O parto prematuro é a maior causa de morte neonatal e pode ser evitado

São Paulo (AUN - USP) - O parto de nenês prematuros (antes de 37 semanas de gestação) é a principal causa de morte após o nascimento. Essas crianças morrem logo depois do parto, no berçário, ou depois que vão para casa. As que sobrevivem têm seqüelas por toda a vida, como alterações respiratórias, já que o pulmão ainda não se formou por completo, e infecções, porque o seu sistema imunológico ainda é imaturo. Quando o recém-nascido pega uma infecção, é progressiva. Além disso, há ainda problemas neurológicos, como hemorragia intracraniana, cegueira, crianças que depois têm dificuldade em aprender na idade escolar, perda de audição e paralisia cerebral em vários graus e complicações irreversíveis no sistema nervoso, já que o prematuro é mais sensível a problemas de falta de oxigênio e glicose no tecido nervoso.

“É um problema de saúde pública”, alerta o professor Roberto Bittar, responsável pelo Setor de Baixo Peso Fetal da Obstetrícia da Faculdade de Medicina da USP. Diante dessa situação, o dr. Bittar iniciou uma pesquisa sobre a prevenção de partos prematuros.

De cada cem crianças que nascem no Hospital das Clínicas, 22 são prematuras. Dessas, 15% morrem antes de um mês de vida. É um índice altíssimo, principalmente, porque o HC atende gestação de alto risco. Nos hospitais escola, a incidência de parto prematuro tende a ser maior, já que a principal causa da prematuridade ainda é o fator socioeconômico. Mas nem por isso esses dados são menos preocupantes.

Metade dos partos prematuros é decorrente de doenças maternas, gestação de alto risco. São mulheres com hipertensão na gravidez, doenças do coração, diabetes ou doenças auto-imunes, com ao esclerose. Se uma paciente tem hipertensão e não trata durante a gravidez, a pressão vai subindo até a criança nascer. Algumas doenças maternas causam problemas na placenta, que deixa de passar os nutrientes da mãe para o feto adequadamente, causando a desnutrição intrauterina.

Como explica o professor Bittar, “são gestantes que a gente acaba internando durante a gravidez, e até interrompendo essa gravidez antes do tempo, porque se deixar a criança dentro do útero, ela pode morrer lá dentro. Só que quando você retira, é um prematuro. É uma situação difícil para o obstetra”.

A outra metade dos partos prematuros são de gestantes que já chegam no HC em trabalho de parto prematuro espontâneo. Faziam o pré-natal em outros serviços da rede pública, geralmente deficiente, ou sequer faziam o pré-natal. Tinham infecção, alteração hormonal, diminuição da progesterona, estresse, inflamações, sangramentos, corrimentos.

O pré-natal é fundamental na prevenção do parto prematuro. Se a mulher não procura o pré-natalista durante a gestação, os problemas aparecem sem ela saber. Quando chega a hora do parto, não dá mais tempo de tratar.

“O ideal é que a mulher, antes de engravidar, procure um obstetra, porque muitas vezes ela tem uma doença e não sabe, muitas vezes ela não pode engravidar, e não sabe. E não depois, quando já estiver no quinto, sexto mês, que é o que a gente vê, uma coisa absurda, quer dizer, ela não sabe os riscos que ela está correndo”, orienta o professor.

Conhecendo o fator que pode causar o parto prematuro e atuar nele é a chamada prevenção primária, a mais importante. A secundária, é feita em mulheres que já começaram o pré-natal, não têm sintomas, contrações do útero, mas têm alterações detectadas com exames específicos, usados nos ambulatórios do HC. Avaliam-se as contrações uterinas, através de aparelhos monitores do abdômen, e os marcadores bioquímicos do parto prematuro, que são substâncias liberadas quando existem alterações entre a placenta e o útero. Esse procedimento permite saber com uma antecedência de até três semanas se vai ocorrer o parto prematuro ou não. Avalia-se a medida do colo do útero, importante para conter a gestação, através do exame de toque ou ultra-sonografia transvaginal. Uma medida normal seria acima de 2 cm, em 23 semanas de gestação. Menos que isso, é preciso tomar cuidados.

É possível evitar o parto prematuro, dependendo do estágio, através do uso da progesterona e, em último caso, de drogas que inibem as contrações.

O programa de prevenção iniciado no ambulatório do HC já reduziu a incidência de partos prematuros em 30%. Pacientes de clínica privada têm uma incidência de apenas 8%. Em outros países, programas de prevenção já provaram ser eficientes. E o meio mais importante e mais simples, é o pré-natal. Como lembra o professor Bittar, “essa é a mensagem, a mulher tem que procurar o obstetra ainda antes de engravidar”.

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