São Paulo (AUN - USP) - Ainda há espaço para a visão artística na cidade. É o que afirma o professor Sergio Regis Moreira Martins, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU/USP. Desviando-se um pouco da visão mais tradicional dos espaços urbanos, ele estuda, junto com outros profissionais, formas de conciliar artes e arquitetura em uma via de duas mãos.
Para Sergio, é fundamental a visão mais crítica que os artistas fornecem às suas instalações. Ao citar o Arte/Cidade, grupo de intervenções urbanas que atua desde 1994, ele demonstra que é possível refletir e reestudar as construções de muitas maneiras, enquanto os arquitetos se ocupam mais com propostas e redesenhos, um trabalho mais ortodoxo. No caso da Praça da Sé, entretanto, ele afirma que houve uma tentativa equivocada de unir artes e arquitetura, com muitas esculturas amontoadas, criando um efeito “kitsch”.
Apesar de considerar-se cético, Sergio vê com bons olhos formas mais contemporâneas de intervenção urbana. Os grafites, por exemplo, tratam de uma perversão e passam idéias que chegam a ser mais importantes que a própria estética. Quando ocorre o caminho inverso, e essa arte se institucionaliza, perde a graça. É o caso do túnel da Avenida Paulista, que periodicamente recebe novos grafiteiros e temáticas.
Além da institucionalização, Sergio afirma que a população hoje em dia é anestesiada, não se espanta muito com mudanças no espaço urbano. A falta de tempo e o pouco exercício da subjetividade faz com que obras como as da Tomie Ohtake, na estação do metrô de São Paulo, passem despercebidas. Mesmo as performances, que “mexem com seu lado mais anarquista”, diluem-se no cotidiano, exigindo sempre novos desafios.
Por outro lado, o professor reconhece que muitas coisas têm surgido, entre elas o Coletivo Bijari, de ex-alunos da FAU. Isso demonstra que existe uma parcela de jovens inquietos, e que, como nos anos 80, quando o próprio Sergio realizava performances, buscam mudar o olhar sobre as metrópoles. Ao mesmo tempo em que essas ações já estão inseridas na cultura urbana, o que diminui a surpresa necessária, surgem também releituras e novas análises. Assim, por mais que Sergio considere a Cow Parade (intervenção de vacas espalhadas por metrópoles) um pouco sem graça ele consegue identificá-la com Um Cão Andaluz, marco do surrealismo de Magritte e Buñuel.