São Paulo (AUN - USP) - Os recentes ataques virtuais de piratas chineses aos sistemas de governos ocidentais levantou a bola para a possibilidade de uma guerra que não se desenvolva no plano físico, mas na Internet, entre as grandes superpotências do mundo.
Para alguns especialistas, no entanto, essa guerra já é mais evidente do que imaginamos. “Diversas publicações da imprensa ocidental vêm relatando que vários governos ocidentais têm feito acusações de que setores de seus governos têm sido invadidos por chineses, supostamente parte do exército do país”, revela o professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), Alair Pereira do Lago.
No entanto, esses conflitos não se restringiriam à esfera governamental. Centenas de vírus são espalhados para a população civil diariamente, por exemplo, e combatidos por sistemas anti-vírus atualizados constantemente por empresas especializadas. “Esses programas se penduram em tudo o que você faz, o que gera uma sobrecarga no sistema. Novos vírus são criados tentando burlar as defesas e estas se tornam cada vez mais complexas para tentar pará-los”, afirma o professor do IME-USP, Marcos Gubitoso. “Nesse sentido, já temos uma guerra”, complementa.
E quem são essas pessoas que promovem atividades contra a lei no ambiente virtual? “São os crackers”, revela Gubitoso. “A palavra hacker assumiu esse significado, mas são coisas diferentes. Um hacker tenta extrair o máximo de uma máquina, mais do que ela consegue oferecer. Esta é sua atividade na origem”.
Sejam essas pessoas hackers ou crackers, a maioria deles busca soluções para as suas dúvidas na Internet. Não são esses os casos que preocupam os governos, mas eles certamente podem fazer estragos no âmbito doméstico, já que a maioria dos usuários não possui ferramentas ou conhecimento para defender os seus dados. “Um programa de computador também sempre possui defeitos e quem compra um software normalmente está interessado em outros critérios que não os de segurança”, diz Lago.
Normalmente, a atividade é associada a um desafio, a um esporte, praticado por jovens, muitas vezes menores de 18 anos, que se reúnem em grupos para planejar suas ações. “A maior parte é primariamente movida pelo desejo de ser capaz de invadir o que se julgava impossível”, acrescenta Lago. “Assim como os grupos de pichadores, eles também desenvolvem uma contracultura, estilos e conjuntos de valores”, completa.
Portanto, não é sempre que uma invasão é feita com intenções ruins. “Já invadiram o meu computador para me alertar sobre eventuais falhas”, diz Gubitoso. Ou seja: se o alarme surgir na sua tela, o invasor pode não ter a intenção de roubar o seu dinheiro ou os seus dados, apenas registrar as suas idéias.
Foi o caso da invasão recente ao SBT, em que o hacker deixou o seu desabafo contra os rumos políticos do país no site da empresa. Mesmo assim, esta ainda é uma forma de corrupção da propriedade. “Muitos fazem isso para manifestar o seu protesto, assim como invasões na vida real. Todos esses casos têm em comum o uso de alguma forma de violência contra terceiros para afirmar seus interesses”, alerta Lago. Também como na vida real, a população é a grande refém. Saber sobre a segurança na Internet é fundamental para garantir que não seremos atingidos no fogo cruzado.