São Paulo (AUN - USP) - Um meteoro de 2 a 4 km de extensão caiu no sudeste do Mato-Grosso . A cidade de Araguainha se encontra bem no centro dessa queda que, coincidentemente, é da mesma época em que houve uma das maiores extinções da fauna e da flora na Terra. Essa cratera, que tem aproximadamente 245 milhões de anos, está sendo estudada por um grupo de pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Meteorológicas – IAG/USP e da Unicamp, e a partir do estudo será concluído o primeiro modelo da estrutura de crateras de impacto brasileiro.
Para a professora do Departamento de Geofísica do IAG, Yára Marangoni, “a cratera de Araguainha é um Laboratório Natural para estudar impactos”. A região sofreu pouca erosão, e atividade sísmica é baixa. Além disso, trata-se de um lugar isolado do Brasil – a população de Araguainha não passa de 1500 habitantes. Tudo isso contribui para que essa cratera se torne uma das mais conservadas dentre as 176 crateras do mundo. Comparado a Marte, ou à Lua, esse número é pequeno. Marte tem centenas de milhares de crateras já denominadas. E a busca por minerais e água, nesses astros, tornou necessária a elaboração de modelos da estrutura das crateras. Os modelos ajudam a descrever a situação dos minerais no subsolo após o impacto.
O modelo brasileiro para a cratera de Araguainha contou, em sua elaboração, com um método ainda pouco usado nesse tipo de estudo no Brasil. Trata-se da análise gravimétrica. Os cientistas coletaram dados de 20 km ao redor do domo e analisaram a variação da força gravitacional nas rochas do subsolo, do granito do domo e dos anéis em volta dele.
Quanto um meteoro se choca com o solo, uma enorme quantidade de sedimentos se levanta e forma anéis em volta do local da queda. O choque abala as estruturas do escudo cristalino, de granito no caso de Araguainha, e pode causar uma elevação de parte desse granito que estava no subsolo, formando o chamado domo da cratera. O Domo de Araguainha tem 5 km de diâmetro e altura de 800 metros. Os anéis que o impacto gerou lá têm em média 500 metros de altura. A cratera tem 40 km de diâmetro.
O modelo de Araguainha traz alguns dados incomuns para os pesquisadores de crateras. A densidade do granito central, que é de 2400 kg/m³, é muito abaixo da que era esperada, que seria de 2600 kg/m³. Além disso, a professora Yára também comenta o fato de que o impacto alterou a estrutura do escudo de granito e as camadas sedimentares que ficavam abaixo do solo. A estrutura foi fragmentada em forma de anéis ondulares, semelhantes aos anéis gerados na superfície.
Para os pesquisadores, o dado é tão curioso que eles decidiram estender a área da pesquisa para mais 40 km, a fim de se coletar mais dados da estrutura do escudo cristalino sob a região, compará-los com os dados da cratera e averiguar se a mudança na estrutura é de fato por causa da queda do meteoro.
O modelo é novo e pode gerar mais pesquisas, mas perde em efeitos comparativos a partir do momento em que o método por gravimetria não é muito utilizado na análise de outras crateras. Sabe-se que esse procedimento foi aplicado somente em crateras grandes e famosas, como a de Vredefort, na África do Sul, conhecida como a maior cratera do mundo, ou a de Chicxulub, no México, cratera defendida por muitos como sendo o local onde o meteoro que extinguiu os dinossauros bateu, há milhões de anos.