São Paulo (AUN - USP) - O seminário Paisagem e Participação: práticas no espaço livre público, organizado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU/USP, destacou-se das discussões cotidianas do meio acadêmico por trazer o foco para ações que unem a USP, a sociedade e o poder público. Durante os dois dias de debate, 18 e 19 de outubro, alunos e profissionais aproveitaram as mesas-redondas, grupos de trabalho, apresentações de projetos para entender melhor como funciona essa integração dos diferentes setores.

Um exemplo claro dessa possibilidade de intercâmbio foi a mesa-redonda do dia 19, que trouxe a questão do Parque Pinheirinho D’água, com a apresentação de Caio Boucinhas, diretor do Departamento de Parques e Áreas Verdes (Depave) da Prefeitura de São Paulo. Caio explicou como foi o processo de criação do parque, um modelo para a proposta do seminário de participação prática no espaço livre público.

Para Caio, foi fundamental o desenvolvimento do projeto com a população da região envolvida. Ele ressalta que no local, próximo a Pirituba, os movimentos sociais já realizavam mutirões e defendiam os interesses da comunidade. Esse mesmo movimento conseguiu ampliar a área do parque em 70 mil metros quadrados, além de tornar o lugar um centro de educação ambiental e qualidade de vida próximo ao pico do Jaraguá.

Boucinhas entende que o envolvimento da população na construção da paisagem urbana vai além de poucas perguntas. O que torna o caso do parque exemplar é justamente a participação em diferentes esferas. A escola teve um papel de destaque nesse processo, não apenas por ser o local de encontro das assembléias, mas por ter aproximado as crianças da experiência. A professora da rede pública, Márcia Penha, que dava aula na escola do parque nessa época, contou no seminário que o Parque Pinheirinho D’água foi inserido no currículo da escola, mudando a cabeça tanto dos alunos quanto dos professores. Nas aulas, eles construíram maquetes e desenharam as idéias que tinham para o lugar, além de aprenderem sobre os tipos de árvore que seriam plantados e por quê. O nome do parque faz referência à planta que cresce nos brejos da região e foi decidido num dia de festa para a comunidade.

O líder da União Nacional dos Movimentos de Moradia, Donizete Fernandes, estava presente da apresentação de Caio Boucinhas. Donizete também ressaltou o papel da educação nas mudanças no parque e fez um apelo para a USP voltar a ser ativa no movimento, como parceira da luta por moradia com qualidade, não apenas moradia. A atuação da FAU na construção do parque é explicada por Boucinhas com a idéia de “charrete”. Esse método, herança de uma parceria com uma universidade canadense, consiste na imersão de alunos e profissionais de diversas áreas na questão escolhida, realizando um estudo completo, seguido de propostas de projeto. No caso do parque, as decisões finais foram tomadas em uma assembléia com estudantes e professores da USP, moradores da região e parlamentares. Um dos casos notórios durante essas assembléias foi a proposta da PM de usar uma parte do parque como garagem e oficina mecânica de suas viaturas. A liderança dos movimentos populares, mesmo entendendo a necessidade de aumentar a segurança no bairro, rejeitou a idéia, pois contrariava os objetivos do parque, ligados à educação ambiental e manutenção dos recursos naturais.