São Paulo (AUN - USP) - De tempos em tempos, um mapa que alegam ter sido extraído de um livro didático norte-americano mostra a Amazônia como área de território internacional. Muitos acreditam que essa é a prova suficiente de que a região está sob ameaça estrangeira. Para Hervé Théry, professor convidado da USP, é a prova de que a opinião pública brasileira está insegura quanto à soberania do país na Amazônia.
Em seminário recente no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o geógrafo ressaltou a importância atual do território amazônico para o desenvolvimento da América do Sul. Segundo ele, a Amazônia não tem “dono”, como o presidente Luís Inácio Lula da Silva costuma dizer em seus discursos, mas “donos”, já que somente 62% fazem parte do território brasileiro, e o restante se espalha por nove países.
Geologicamente, a Amazônia ocupa o centro do continente. Mesmo assim, era considerada como “fundo” da região. Hoje, Théry acredita que a Floresta ocupa o centro, não só da América do Sul, mas das políticas públicas do país. Tanto que é através da Amazônia que se vem criando uma rede de integração ligando todos os países fronteiriços.
Aos ufanistas, o pesquisador avisa: a Amazônia é mais bonita e sua biodiversidade é maior fora do Brasil. Ele cita como exemplo a Amazônia equatoriana, cujas altas altitudes permitem o surgimento de espécies raras.
Essa beleza, no entanto, está ameaçada pela expansão da fronteira agrícola, com a soja e recentemente a cana-de-açúcar e a criação de gado, confirma Théry. A exploração, no entanto, não é algo recente. O pesquisador traça um panorama histórico e detalha que, desde a época do domínio português, já havia fortes por toda a região amazônica para garantir a soberania sobre o território.
Com a construção de linhas de transmissão de energia, gasodutos e estradas, a Amazônia volta a interligar o Brasil a muitos outros países: “Amazônia não é mais o fim da linha, passa a ser o centro, por onde cortam alguns eixos de ligação entre o Brasil e seus vizinhos”, afirma. O único país com o qual não há projetos de interligação, devido ao narcotráfico e outros problemas fronteiriços, é a Colômbia.
Segundo Théry, o próximo passo é a integração norte-sul através das hidrovias. Ele conta que há projetos para ligar o Acre ao pacífico com êxito. Além disso, os rios amazônicos permitem grande navegabilidade: “Aos poucos, com essas medidas, a Amazônia recupera seu papel central no continente”, conclui.