ISSN 2359-5191

05/11/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 73 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
“Há ganância por parte dos laticínios”, diz professor da USP

São Paulo (AUN - USP) - Com as recentes revelações de fraudes no leite longa vida de duas cooperativas mineiras, a qualidade dos alimentos que compramos e sua fiscalização por parte do governo voltaram a ser temas de discussões. Para o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e membro da Câmara Técnica de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Pedro Manuel Leal Germano, a fiscalização da qualidade do que vai nas prateleiras não cabe ao governo: “Não temos condições para isso”.

Segundo o professor, muitas indústrias e redes de supermercados com produtos de marca própria compram de pequenos produtores por preços mais baixos, rotulam e embalam a mercadoria sem passá-la por um rigoroso controle de qualidade. “Há uma ganância por parte dos laticínios”, acredita. “Muitos não tem condições higiênicas, nem mesmo tecnológicas para garantir a qualidade do leite e acrescentam substâncias ilegais na tentativa de fazer com que esse tempo de prateleira aumente”, revela.

Conforme colocado por Germano, o tempo de armazenamento do leite é o principal fator que levou às adulterações. A soda cáustica (hidróxido de sódio) foi usada para baixar o nível de acidez, ambiente favorável à proliferação de bactérias. Tem-se então, a impressão de que o leite está livre de impurezas. Para substituir a refrigeração, que é o procedimento recomendado, porém mais caro, foi usada a água oxigenada (peróxido de hidrogênio), agente esterilizante de produtos com microrganismos em excesso, em decorrência da falta de higiene. Ambas são substâncias ilegais e comprovadamente nocivas à saúde.

As substâncias, de acordo com a Polícia Federal, eram diluídas em água - junto com outras, como citrato de sódio e ácido cítrico -, numa proporção de 10% do total. Em alguns grupos de pessoas os efeitos podem ser muito graves: crianças até 5 anos de idade, convalescentes (em recuperação de cirurgias, por exemplo) e idosos. Nesses, o risco de adquirirem problemas gastrointestinais é alto.

Todos os alimentos industrializados têm uma série enorme de aditivos - substâncias não nutritivas com a finalidade de melhorar a aparência, cor, textura e tempo de armazenamento do produto. Porém, Germano afirma que a quantidade dessas adições é tão controlada e pequena – algumas medidas em partes por milhão e outras partes por bilhão -, que são comprovadamente não prejudiciais à saúde.

Fiscalização

Para o professor, deve ficar a cargo das próprias indústrias que adquirem esses leites fazerem o seu controle de qualidade. Ele explica que o Ministério da Agricultura, através da inspeção, assegura que o leite que está sendo encaminhado para a pasteurização é um leite de qualidade. Mas, no momento em que ele é embalado e sai da indústria, a responsabilidade pela qualidade é desta, já que para o Ministério esse leite já é considerado higienicamente perfeito. “Quando ele está nas prateleiras, o Ministério da Agricultura e da Saúde não podem ficar analizando cada produto; senão vão virar verdadeiros cartórios”, afirma. “Eles entram quando existem denúncias, inclusive processando a indústria compradora porque o fato do laticínio vender fraude e a indústria comprá-la e revendê-la significa que ela é solidária criminalmente com o laticínio comprador ”, completa.

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