São Paulo (AUN - USP) - De início, pode parecer estranho ouvir que o Instituto de Psicologia da USP tem um centro de estudos sobre a visão. Mas é verdade. Eles possuem um laboratório de mecanismos visuais básicos e um grupo de estudos de psicofisiologia sensorial, onde se estudam as bases neurais da visão (e de outros sentidos) e oferecem-se exames à comunidade.
Marcelo Fernandes da Costa, professor do Instituto de Psicologia, conta que, recentemente, descobriu-se que todos os vertebrados, com exceção dos primatas, conseguem enxergar em ultravioleta. Até então, só se sabia que os artrópodes (insetos, crustáceos e aracnídeos) tinham essa capacidade. Diante dessa descoberta, o laboratório da visão decidiu pesquisar por que este atributo apareceu na cadeia evolutiva e como influencia o comportamento dos animais. Eles estão fazendo testes com beija-flores, peixes e tartarugas para entender como os neurônios da retina respondem ao estímulo das cores e como as diferenciam.
Além dessas pesquisas, o grupo tem se dedicado às medições da visão. O objetivo é identificar as semelhanças e diferenças entre as funções visuais em indivíduos normais e naqueles que sofreram algum tipo de influência, como portadores de diabetes tipo 2, pessoas que estejam em tratamento neurológico ou psiquiátrico e os contaminados por mercúrio ou cloroquina - uma substância muito utilizada para tratar a malária nos anos 1980, hoje substituída por outros medicamentos.
Entre os exames oferecidos à comunidade, estão a varredura, que mede a acuidade visual em bebês e crianças. Acuidade visual é a capacidade que o olho tem de distinguir formas e contrastes. Neste exame, tapa-se um dos olhos da criança, para que ela assista a estímulos visuais em um monitor. Enquanto isso acontece, a atividade do córtex (a camada mais externa do cérebro, responsável pela linguagem, percepção, emoção, cognição e memória) é acompanhada com a ajuda de eletrodos colocados na cabeça da criança. Os dados são analisados online, por um software norte-americano.
Outro teste que eles aplicam é o das 100 matizes de Farnsworth-Munsell, no qual 100 tons de uma mesma cor são apresentados ao paciente em ordem aleatória. Sua tarefa é colocá-los numa ordem cromática, do mais claro para o mais escuro ou do mais escuro para o mais claro. Somado a outros exames de percepção de contraste, doenças como glaucoma, esclerose múltipla, mal de Alzheimer, mal de Parkinson e fibrose cística podem ser detectadas mais precocemente.
Para conhecer o laboratório de visão e obter mais informações sobre os exames, o endereço é Av. Professor Mello Moraes, 1721 - Bloco D - Atendimento, no campus Butantã da USP.