São Paulo (AUN - USP) - Um projeto em específico, desenvolvido por veterinários, médicos e biólogos e chefiado por Lygia da Veiga Pereira, professora do Instituto de Biociências da USP (IB-USP), investiga o processo de inativação em mulheres do cromossomo X, molécula que contém algumas informações genéticas importantes, como as que caracterizam doenças como o daltonismo e síndromes malformativas. Foi constatado pelo grupo, por exemplo, que o radical químico metil, quando presente na molécula de DNA do cromossomo X, é uma espécie de “sinal” dado à célula de que aquele cromossomo é o que deve ser inativado.
A carga genética humana é representada por um conjunto de 23 pares de cromossomos, sendo esta responsável pelo controle da atividade celular, e fundamentalmente pela produção de proteínas. Cada par possui um cromossomo proveniente do pai e outro da mãe. Para a determinação do sexo, a diferença reside em um desses pares. Nas mulheres, o par sexual é constituído de dois cromossomos semelhantes (chamados de homólogos e definidos como XX). O homem possui um cromossomo sexual X e um outro cromossomo, denominado Y, formando um par não-homólogo.
“No sexo feminino, um dos cromossomos X é inativado de forma aleatória logo nas primeiras fases do desenvolvimento embrionário”, diz Lygia, e assim, somente um cromossomo X se expressa, numa quantidade proporcional à expressão genética do cromossomo X presente nos homens. “Este fenômeno é chamado de compensação de dosagem”.
Surpreendentemente, o processo de inativação cromossômica persiste por todas as multiplicações celulares subseqüentes que produzem o corpo adulto da mulher, ou seja, a inativação é transmitida para as suas respectivas “células-filhas”.
Objetos de estudo de inúmeras pesquisas em todo o mundo, os cromossomos sexuais humanos têm sido amplamente analisados, permitindo avanços nas áreas clínica e molecular. O principal interesse da pesquisa encabeçada pela Dra. Lygia Pereira é justamente a manutenção deste estado inativo do cromossomo X durante as reposições celulares femininas. “Nos Estados Unidos eles preferem descobrir o início de tudo, na fase embrionária, e nós, aqui no Brasil, optamos por entender melhor como funciona isso ao longo da vida”, ela comenta. Para tanto, a equipe trabalha com testes funcionais, que permitem a seleção e identificação de novos genes envolvidos no processo. Outro artifício é consultar o banco de dados de genes humanos já sequenciados pelo projeto Genoma. O projeto já conta com a colaboração de Ângela Vianna-Morgante, também professora do IB, e espera dar passos decisivos neste ano, com a recente chegada de cientistas russos para trabalharem nas pesquisas.