ISSN 2359-5191

21/11/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 81 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Professor da USP critica declarações polêmicas de ganhador do Nobel

São Paulo (AUN - USP) - Recentemente, o renomado geneticista americano James Watson, que ganhou um prêmio Nobel por ser um dos responsáveis pela descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA, emitiu algumas declarações que geraram polêmica. Em entrevista ao diário inglês “Sunday Times”, o cientista afirmou ser "inerentemente pessimista em relação ao futuro da África" porque "todas as nossas políticas sociais são baseadas no fato de que a inteligência deles é igual à nossa - quando todos os testes dizem que não é bem assim".

Para o antropólogo Rui Sérgio Murrieta, do Instituto de Biociências da USP, tal declaração não possui nenhuma validade científica. “Ele se baseia em estudos norte-americanos que comparavam o QI de populações brancas e negras, sem considerar que essas últimas geralmente vivem em condições de pobreza. O bom senso diz que só se pode comparar populações com as mesmas condições socioeconômicas”.

A repercussão das declarações foi grande e negativa. Watson tentou se retratar, dizendo que foi mal compreendido e que não quis dizer que a África era um continente geneticamente inferior. Mas, em menos de uma semana, o cientista teve uma palestra no Museu de Ciências de Londres cancelada e foi suspenso do laboratório onde trabalhava.

Alguns membros da comunidade científica questionaram a suspensão e chegaram a falar em censura. Para Murrieta, a punição se justifica. “Watson não estava apenas expressando sua opinião pessoal, estava lá como cientista, representando o lugar onde trabalhava. Ele usou da sua autoridade científica e visibilidade institucional, adquiridas em uma área muito específica do conhecimento, para expressar opiniões sobre temas dos quais tem conhecimento meramente anedótico”. O professor crê que esse é um problema corrente nos círculos acadêmicos, inclusive os brasileiros.

O antropólogo lembra ainda que a hegemonia ocidental é um fato histórico recente. Quando os europeus chegaram à América, encontraram civilizações, como a Inca e a Mexica, que possuíam cidades maiores e mais bem organizadas que as suas. A própria África subsaariana teve civilizações importantes, como a Grande Zimbábue, que controlou o comércio continental entre as costas orientais e ocidentais do África Equatorial. “Qualquer pessoa que tenha uma visão mais ampla da história humana sabe um estudo comparativo entre duas populações deve ser avaliado levando em conta os ambientes socioeconômicos e ecológicos em que estão inseridas”, diz, sobre as declarações de Watson. E dispara: “ou esse homem é muito ingênuo ou ele está gagá”.

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