ISSN 2359-5191

27/11/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 85 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Faculdade de Odontologia traça perfil de pacientes com HIV

São Paulo (AUN - USP) - Cerca de 1.500 portadores de HIV já passaram pelo Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape) da Faculdade de Odontologia (FO) da USP nos seus 18 anos de funcionamento. Desde sua fundação, em 1989, o perfil de tais pacientes sofreu consideráveis alterações, que foram o objeto da pesquisa de especialização de Janaína Medina.

A dentista sistematizou as mudanças sócio-econômicas verificadas nos soropositivos que buscaram atendimento na clínica entre 1989 e 2000. As diretrizes encontradas por ela, sob a orientação das professoras Karem Ortega e Marina Magalhães e com ajuda da aluna de iniciação científica Nathalie de Rezende, confirmam as tendências apuradas pelo Ministério da Saúde: “Foi possível notar uma diminuição no nível de escolaridade e na proporção entre homens e mulheres contaminados, mas a faixa etária do paciente aumentou. Também diminuíram os pacientes infectados através de contato homo/bissexual, usuários de drogas injetáveis e transfundidos, enquanto aumentou a transmissão heterossexual”, explica Janaína.

O desenvolvimento de pesquisas epidemiológicas é importante para que se elaborem campanhas de prevenção mais focadas e mais eficazes, que consigam, de fato, reduzir os níveis de contágio. “Como a epidemia do HIV está sempre mudando, estudos como esse nunca terminam, estão em constante atualização”, ela acrescenta.

O Ministério da Saúde faz um acompanhamento da epidemia de HIV no País, que deveria ser publicado trimestralmente. Entretanto, a orientadora Karem Ortega afirma que essa publicação é muito irregular: “A última publicação saiu com dados de um ano inteiro”.

O levantamento feito pelo órgão dá-se através de notificações das unidades de saúde do sistema público. O problema é que tais notificações são feitas apenas para pacientes em AIDS, ou seja, aqueles nos quais o vírus se manifestou e já apresentam doenças relacionadas ao HIV. Além de tais pacientes são computados pelo governo apenas os registros feitos por bancos de sangue, que efetuam o teste para o vírus nos potenciais doadores, e em mulheres grávidas, que são aconselhadas a fazer o exame no pré-natal.

Dessa forma, de acordo com os dados oficiais, há cerca de 600.000 contaminados no Brasil. No entanto, graças a pesquisas como a do Cape, estima-se um número bem maior: entre 1 milhão e 1 milhão e meio de soropositivos, o que atesta a necessidade de estudos com maior acurácia para traçar um panorama epidemiológico eficaz no País.

A pesquisa
Para realizar o estudo na clínica da FO-USP, Janaína transferiu os dados contidos nas fichas clínicas dos 1.200 pacientes que passaram pelo centro entre 1989 e 2000 para um programa de computador chamado Epi Info, desenvolvido pelo Centers for Disease Control and Prevention. Para minimizar ao máximo a possibilidade de equívocos, a equipe desenvolveu um dicionário de dados utilizados no preenchimento dos diversos campos.Os resultados confirmam que o perfil do soropositivo que passou pelo Cape realmente mudou nos 11 anos analisados.

Ainda que a grande maioria dos pacientes tenha vindo de São Paulo, capital, foram registrados atendimentos a pessoas de três Estados e 43 municípios diferentes. Aqui cabe ressaltar a tendência verificada pelo Ministério da Saúde de interiorização da epidemia de HIV: os casos de contaminação têm diminuído nos grandes centros urbanos e crescido em cidades com menos de 50 mil habitantes. Outra diretriz em conformidade com os dados oficiais é a prevalência de infectados de cor branca – 53%, no caso do Cape.

Outra tendência delineada pela pesquisa é o decréscimo da proporção entre homens e mulheres contaminados, que, em 1989, era de 7/1, e, em 2000, já havia chegado a 2/1. Janaína explica que “A conseqüência disso é o aumento da transmissão vertical, ou seja, de mãe pra filho. Isso resultou um crescimento no número de atendimentos a crianças soropositivas, particularmente entre 92 e 97”.

A idade média dos pacientes atendidos pelo centro é de cerca de quarenta anos e que as mulheres, em geral, são mais jovens que os homens. Com o passar dos anos verificou-se também uma tendência de aumento da idade média dos soropositivos atendidos.

A maior parte dos pacientes tinha até o primeiro grau, sendo que, através dos anos, é possível notar a diminuição dos anos de estudo. Outro ponto interessante é que os homens, em geral, tem maior grau de escolaridade do que as mulheres.

A categoria de exposição ao vírus também identifica tendências diferentes da epidemia no Brasil com relação ao sexo. Ainda que a maior parte dos pacientes tenha sido infectada através de relações sexuais, existe uma maior prevalência de contatos heterossexuais em detrimento dos homo ou bissexuais. As mulheres apresentam uma incidência maior de contágio através do primeiro tipo de contato enquanto os homens estão mais identificados com o segundo. Outra característica que pôde ser notada foi o forte declínio na prevalência de homens homo/bissexuais, de usuários de drogas injetáveis e de transfundidos.

As cuidadoras
Ainda que o intervalo abrangido pela pesquisa não permita mensurar a taxa de sobrevida dos pacientes, Janaína afirma que o advento dos coquetéis antirretrovirais aumentou consideravelmente o tempo e a qualidade de vida dos soropositivos do centro: “As medicações diminuíram a infecção pelas chamadas doenças ‘oportunistas’, aquelas que se aproveitam da debilidade do sistema imunológico”.

No entanto, o estudo revela que, mesmo que o número de mulheres infectadas tenha crescido, como já foi assinalado, elas utilizam menos os medicamentos, o que resultou em taxas menores de sobrevida para o grupo feminino. As pesquisadoras estimam que isso ocorra porque a mulher dá mais atenção à família, demorando mais para procurar atendimento para ela mesma e descuidando-se de seu próprio tratamento.

Esse maior cuidado com a família reflete-se também nos motivos pelos quais os pacientes do Cape se submeteram ao teste de HIV. Para ambos os sexos, a principal razão apontada foi pedido médico ou sintoma relacionado à doença. Nos motivos subseqüentes, contudo, nota-se que o grupo feminino submeteu-se ao exame quando descobriu que o marido ou o filho eram soropositivos. “No contexto HIV/Aids, geralmente a família toda está infectada: esposa, marido e filhos. A mulher cuida de todos e se preocupa menos com ela”, explica Karem.

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