São Paulo (AUN - USP) - No Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), está prevista para o próximo ano a entrega de um trabalho de pesquisa sobre a história da energia nuclear no Brasil e o Grupo do Tório. Este foi constituído no Instituto de Pesquisas Radioativas em 1965, na Divisão de Engenharia de Reatores, que atuou até 1973. O objetivo do trabalho é analisar a importância do desenvolvimento da tecnologia do uso do tório em reatores de potência e pesquisar os motivos que levaram ao fim desse grupo.
A dispersão da equipe e a perda de sua história tornaram o tório o "Combustível Perdido", como o chamam Rodrigo de Souza Neves, aluno que desenvolve o trabalho, e sua orientadora, Ana Maria Gordon.
O governo, sabendo das reservas de tório no país e na época não tendo conhecimento das reservas em urânio, percebem o grande potencial para geração de energia com reatores nucleares baseados no tório. No entanto, esse potencial foi desprezado favorecendo os tradicionais reatores PWR, alimentados com urânio enriquecido (235). Hoje sabemos que o país tem uma grande reserva de urânio. Ele é uma fonte importante de energia, mas sua escolha está muito mais atrelada a influências externas ao país do que ao melhor aproveitamento do nosso potencial.
O IPR atual Comissão de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais, era a ponta de lança da pesquisa com tório em 1965, quando o Grupo do Tório foi lá fundado com ajuda da Comissão Nacional de Energia Nuclear - órgão regulador do setor nuclear -, que pretendia avançar as pesquisas nucleares nos institutos do país.
Entre 1965 e 1968, o Grupo estabelece sua equipe, define suas diretrizes de pesquisa, e firma convênios com a CEA (Commissariat Français a l’Énergie Atomique) que também pesquisava o tório para gerar energia para o país. Em 1971, o IPR é transferido para a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear (CBTN) quando passa a desenvolver outras atividades além daquelas de pesquisas.
Em 1971 a CBTN é sucedida pelas Empresas Nucleares Brasileiras S/A (Nuclebrás) e o IPR é incorporado nessa nova estrutura. A Nuclebrás é uma instituição nuclear formada já no governo do General Geisel para ser uma empresa que levasse adiante uma indústria de projeto e fabricação de reatores com os acordos para construção dos reatores de Angra dos Reis.
Nessa altura o grupo do tório já tinha sido dissolvido. Uma das razões do seu fim foi a opção do governo brasileiro por adquirir um reator PWR dos EUA tendo o urânio enriquecido como combustível.
A Nuclebrás estava fortemente ligada a CNEN, que detinha 51% das ações da empresa. O novo presidente da CNEN era Evaldo Guimarães de Carvalho que não estava interessado em energia nuclear com tório. Para Evaldo, os PWR planejados para Angra eram o verdadeiro futuro da energia nuclear brasileira. Assim, ele foi cortando os financiamentos do Grupo. A própria França, com quem o Grupo tinha convênios, abandona as pesquisas com o tório pela urgência que tinha em produzir energia para seu país, não podendo esperar mais pelas pesquisas que seus grupos levavam com o tório.
Até a década de 1990, ainda se fazia pesquisas com o tório no Instituo de Energia Atômica (atual Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), mas estas também foram abandonadas com o tempo, e o tório se tornou, de fato, um combustível perdido para o Brasil.