São Paulo (AUN - USP) - O Censo da Vida Marinha é uma ação internacional que reúne uma rede de mais de 2000 pesquisadores, de 80 países diferentes. Seu propósito é compilar os dados já existentes acerca da diversidade, distribuição e abundância da vida marinha, além de criar grupos para novas pesquisas. O Censo possui atualmente 17 projetos, que investigam a biodiversidade de uma área, grupo de organismos marinhos ou de em período específico do tempo. Por exemplo, há um dedicado apenas aos microorganismos que vivem no mar, um que pesquisa o Oceano Ártico e outro que se propõe a elaborar uma previsão das mudanças que ocorrerão futuramente nos oceanos. A iniciativa começou em 2000 e tem como meta terminar seus trabalhos em 2010. O Brasil participa desde meados de 2005.
Os professores Fábio Lang da Silveira e Rubens M. Lopes, ambos da USP, são os coordenadores do braço brasileiro de um dos projetos, denominado OBIS (sigla em inglês para Sistema de Informações Biogeográficas dos Oceanos). Ele explica que o Censo tem o objetivo de mesurar a biodiversidade no presente, no passado e no futuro próximo, procurando projetar inclusive “aquilo que nunca conheceremos devido à deterioração dos ambientes marinhos”. A perda de biodiversidade por conta da ação humana é uma realidade já perceptível. “Existem coleções antigas de corais pétreos em diversos museus do mundo. Para algumas regiões se descobriu que muitas dessas espécies catalogadas já desapareceram”, exemplifica o professor Fábio.
Os dados do Censo estão disponíveis na Internet através do OBIS, que é um grande cadastro de espécies marinhas, acessível a qualquer um. A contribuição tupiniquim para esse enorme banco de dados consistiu na inclusão de informações compiladas por grandes projetos nacionais de investigação da biodiversidade, como o Biota, da Fapesp, e o REVIZEE, do Ministério do Meio Ambiente. Algumas delas não eram acessíveis antes do trabalho dos colaboradores do OBIS. “Verificamos que havia atraso, por falta de recursos, no registro de dados do Projeto 191 (Biodiversidade Bêntica Marinha no Estado de São Paulo), do Biota. Com a contribuição que demos, elevou-se o número de registros disponíveis desse projeto, que é o maior do sistema, de quatro para 17 mil”, diz Fábio. Para a próxima fase da empreitada, o objetivo dos pesquisadores é divulgar dados sobre a Guiana Francesa e o Uruguai, já que o projeto brasileiro é responsável por todo o Atlântico sudoeste tropical e subtropical.
Segundo o professor, as informações do Censo poderão orientar políticas públicas de conservação natural. Um exemplo da utilização dos dados com esse objetivo ocorreu durante os trabalhos do Ministério do Meio Ambiente para atualizar a definição de áreas prioritárias para conservação, ocorridos no final de 2006. Fábio conta que, para a definição da plataforma externa capixaba sul como área de prioridade extremamente alta para conservação, um fato significante era a existência de espécies endêmicas, ou seja, que só existem ali. Uma rápida consulta ao OBIS resolveu a questão, que poderia se alongar por mais tempo caso os dados não estivessem alocados em um serviço on-line de fácil acesso.